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Brava gente nordestina! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 28 October 2016 15:06

Como bem sabemos, o Brasil passa por momentos difíceis e em tempos assim iniciativas de risco, empreendedorismo por convicção e paixão são coisas que fogem até mesmo ao bom senso e à prudência. Ainda assim, um “cabra arretado”, um paraibano muito macho, se dispôs a construir, sem ajuda financeira de nenhum órgão público, nenhum banco privado, nenhum investidor estrangeiro e nenhuma entidade esportiva um autódromo no interior da Paraíba.

 

No último dia 23 de outubro, um sonho de praticamente quatro décadas realizou-se, com um festival de velocidade que atraiu pilotos de toda a região e só não trouxe algumas estrelas do automobilismo nacional por ter acontecido na mesma data da 30ª Cascavel de Ouro e das 3 Horas de Guaporé. Ainda assim, contou com a presença de Djalma Fogaça, um campeão de tudo que correu na vida.

 

O desafio de tornar seu sonho realidade faz de Fernando Monteiro um bravo, um forte, como certa vez definiu o historiador, antropólogo, jornalista e advogado Luis da Câmara Cascudo o bravo povo nordestino, parafraseando o escritor Euclides da Cunha. Apesar de seu feito, e do nascimento de um novo autódromo, o fato foi solenemente ignorado pela “mídia especializada” do centro sul do país, a mesma que há meses fala do Circuito dos Cristais.

 

 

Contudo, a corrida de abertura das atividades no “Autódromo Internacional da Paraíba” foi um passo para uma longa caminhada. É preciso muito trabalho nesta nova praça de esportes para que esta possa receber corridas de carros e motos dentro de padrões de segurança que são necessários, ou melhor, indispensáveis. Não apenas para a realização de trâmites pseudo-burocrácraticos como pode ser visto o caderno de exigências necessário para a homologação do autódromo por parte da CBA ou da FIA.

 

É preciso dizer que a FAEP (Federação de Automobilismo do Estado da Paraíba) e seu presidente, Sr. Otávio Ribeiro Coutinho Filho, que homologou um dos traçados para que a corrida fosse realizada, onde mesmo as “medidas de segurança” tomadas no intuito de melhorar as condições para a realização da prova, entre elas a bandeira amarela permanente na curva de acesso à reta dos boxes, não esconderam os riscos aos quais todos foram expostos na inauguração.

 

 

Graças à providência divina (Eu acredito em Deus!) nem o acidente com o capotamento de um competidor na corrida de marcas e pilotos foi capaz de transformar a festa em tragédia. Tanto o presidente da FAEP como o clube promotor do evento, o Garagem 83, assumiram para si a responsabilidade sobre qualquer problema mais sério. A CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), apesar do site do Garagem 83 publicar que o autódromo recebera homologação da entidade e mesmo um de seus integrantes afirmar isto diante de reportagem veiculada em telejornal local, Nos informamos e a Assessoria de Imprensa da CBA negou o fato de ter havido homologação do circuito.

 

Desde que recebi as primeiras fotos do autódromo, percebi alguns pontos críticos, como a falta de Guard rails e barreiras de pneus na primeira curva, a proximidade entre a reta oposta do traçado que foi utilizado e a reta dos boxes, onde foi improvisado uma barreira de terra com uma fileira de pneus e a temerosa entrada para os boxes, na mesma tangência da curva que dá acesso à reta principal e que, para a corrida, teve as duas faixas asfaltadas separadas por uma fileira de pneus, amarrados com cordas e revestidos com uma tela dessas semelhantes as que cercam galinheiros.

 

 

Com o muro que separa a área de Box (uma estrutura frágil, sem telas, construído com colunas e peças de cimento armado encaixadas, sem resistência suficiente em caso de uma batida forte) convidando a uma batida frontal ou em “T” no final da curva de entrada da reta, foi impossível não associar o cenário ao ponto crítico que apontamos – e alertamos a a FCA – em 2010 no Autódromo Virgílio Távora e onde, algumas semanas depois, faleceu o piloto Daniel Maia em decorrência de uma colisão em “T” na ponta da mureta dos boxes, protegida por pneus amarrados com cordas. Coincidência ou não, o Diretor de Provas era o Sr. Aírton Vasconcelos , vice presidente da mesma Federação Cearense de Automobilismo.

 

A falta de zebras na maior parte das curvas somado ao desnível da pista em relação à área de escape, que em alguns pontos tinha mais de 20 centímetros eram um risco adicional, que foi agravado com a falta de vegetação ou cimento. Bastava uma roda na terra para se levantar uma nuvem de poeira como foi no caso do toque sofrido pelo Spirit de Djalma Fogaça, que levantou uma grande cortina de poeira e quando baixou se viu o Spirit atravessado dentro da curva (um S) e que ficou exposto a uma perigosa batida “T”. Felizmente os outros pilotos que vinham atrás e entraram nessa nuvem cegamente não bateram no carro do piloto e dono de equipe da F. Truck.

 

 

É preciso que a comunidade do automobilismo se mobilize e ajude o proprietário do autódromo, Sr. Fernando Monteiro, a concluir as obras necessárias para que o autódromo paraibano possa ser homologado e possa ser mais uma praça esportiva num país tão carente de novos e bons autódromos, da mesma forma que é preciso que haja entendimento da parte deste abnegado e daqueles que trabalham para o fortalecimento do automobilismo na região para que as medidas sejam implementadas por serem indispensáveis.

 

Discursar no evento e dizer que “a CBA não manda lá” vai fazer com que tudo o que foi construído, com tanto suor e dedicação, ao invés de um “Autódromo Internacional”, um local para receber categorias nacionais e internacionais, usando o potencial turístico da região e desenvolver o automobilismo do estado, corra o risco de não passar de uma “pista de fundo de quintal”, onde amigos se reunirão para colocar as suas vidas em risco ao invés de engrandecer o esporte a motor.

 

Flavio Pinheiro

Editor Chefe

 

 

 

 

Last Updated ( Sunday, 30 October 2016 08:38 )