Quando eu era criança pequena lá em Contagem (acreditem se quiser, eu nunca fui pra Barbacena), meu pai me deu um brinquedo de presente de natal que foi o melhor de toda a minha infância: um “velotrol”! Era um “velocípede tunnado”, diferente daqueles velhos velocípedes de ferro que algumas outras crianças ainda usavam, que provavelmente foram de seus irmãos mais velhos. Por ser eu o mais velho dos irmãos aqui em casa, escapei daquela peça de museu e ganhei um brinquedo moderno. O Velotrol era todo de plástico, com um rodão na frente e a gente sentava com a bunda bem perto do chão, meio inclinado para trás, e de soltasse o guidão, ia cair pra trás e dar com a cabeça no chão. Hoje em dia as crianças devem andar com cotoveleira, capacete, luvas, joelheiras e toda essa parafernália da “geração nutella” que está sendo formada há algum tempo. Meus filhos não usam essas coisas. Tem que cair, ralar, quebrar uns ossos... isso não me matou e não vai matar ninguém... e eu brincava na rua, não em condomínio! Aquele rodão que tinha na frente era revestido com borracha, para poder ter grip e a gente quando pedalava ele arrancar, mas as rodas traseiras eram de plástico duro e isso permitia a gente fazer derrapagens controladas. É, pessoal, a gente inventou o “Driffting Made in Brazil” sentados em nossos velotrols, descendo pelas calçadas e os mais atirados iam pra rua, encarar os paralelepípedos... não foram poucas as capotagens. Outro dia meu filho estava assistindo com uns amigos umas competições desses chamados “esportes radicais” e, na hora em que eu ia passando, o que eu vejo? Uns caras fazendo manobras com um “velotrol”! parei para ver os caras fazendo uma coisas que eu e meus amigos faziam e outras que se fizéssemos ou morreríamos, ou mataríamos nossos pais ou eles nos matariam com o tamanho da coça que iríamos levar. Só que hoje tem “velotrol pra gente grande”... os caras eram adultos, com barba na cara e ainda ganhavam dinheiro pra fazer aquilo! Para quem desafia limites, o risco do acidente está ali, esperando na primeira esquina e, no caso do automobilismo, na próxima curva, quando não na reta mesmo. Diferente do velotrol, os pilotos dos carros de corrida tem uma lista interminável de itens de segurança para protegê-los – incluindo este indigerível halo – que o pessoal da TV da Liberty teve uma ideia de gênio e, usar aquela geringonça para fazer a projeção dos gráficos de velocidade, marchas, aceleração... olha o foco! Se tem alguém que hoje está no grid fazendo uso de todos esses recursos de segurança é o Menino Verstappen. Ninguém pode negar que ele é rápido, arrojado, que anda no “modo hard” o tempo todo e que conta com uma paciência interminável por parte de todo o pessoal da Red Bull, incluindo o ex-gerente de RH da Gestapo, Helmut Marko. Mas o menino, que começou tão bem na categoria, mostrando personalidade e velocidade, está cada vez mais parecido com o pai... fazendo uma besteira atrás da outra! Em 2018, a sucessão de erros para um piloto em quem se aposta tanto, se elogia tanto, é quase absurda. Além disso, o menino não é mais um novato. Esta é sua quarta temporada, ele já tem mais de 60 Grandes Prêmios onde largou e em 2018 está tendo seu pior desempenho desde o Grande Prêmio da Austrália em 2015, quando ainda era menor de idade. Este ano, no mesmo Albert Park, o holandezinho rodou sozinho logo depois de abrir a décima volta quando vinha em quinto lugar e com possibilidades de progredir pela tática que a equipe havia estabelecido. Com a rodada – e a consequente ‘lixada’ nos pneus, sem contar os danos no assoalho – a tática ficou comprometida e o resultado também. Não fosse a mancada nos carros da Haas, o resultado seria pior. Na pista, ele ainda foi ultrapassado pela McLaren de Fernando Alonso. Na corrida seguinte, Verstappen extrapolou em dose dupla. Primeiro, no treino classificatório, depois de passar pelo Q1, o treino do holandês acabou em uma barreira de pneus , obrigando-o a largar na oitava fila, com poucas chances de conseguir uma colocação entre os seis primeiros, posição que – em condições normais – a Red Bull conseguiria. Mas a corrida acabou na terceira volta, quando depois de conquistar diversas posições na primeira volta, foi com sedento demais ao atacar Lewis Hamilton e acabou tendo um pneu furado e um posterior abandono causado pelos danos que o carro sofreu. Com isso, nenhum ponto marcado e acusações contra o piloto da Mercedes, que teve danos menores e chegou ao pódio. Na corrida seguinte, na China, ele conseguiu fazer pior: depois de uma largada e primeira volta espetaculares, Verstappen tinha tudo para conquistar um lugar no pódio, mas depois da bandeira amarela no meio da corrida, com a espetacular parada dupla que a Red Bull fez, seus carros estava prontos para superar os adversários e conquistar não apenas a vitória, mas uma dobradinha, algo que não acontecia desde 2013. Quando deram a bandeira verde, Verstappen era o 4º e Ricciardo era o 6º. Mas ao contrario do seu mais experiente companheiro de equipe, que não apenas o ultrapassou, mas foi ultrapassando todos os carros à sua frente, mesmo com o traçado chinês favorecendo motores mais fortes como os Ferrari e Mercedes, quando chegou sua vez de tentar superar Sebastian Vettel, Verstappen errou e atingiu a Ferrari, danificando o carro do adversário e perdendo muito tempo. A batida rendeu uma punição de 10 segundos no tempo total e a perda da quarta posição para Lewis Hamilton. O descontrole do menino birrento chegou ao extremo no Azerbaijão e desta vez a vítima foi a própria equipe. Ao longo de 39 voltas Verstappen usou de todos os meios, alguns bastante “questionáveis” (o termo não era esse, mas o texto foi censurado) para impedir a ultrapassagem do companheiro de equipe, que por diversas vezes mostrou estar mais rápido. Os dois chegaram a tocar rodas andando lado a lado. Mas o que aconteceu na reta dos boxes, em frente a todos os chefes de equipe foi surreal! Diante da iminente ultrapassagem, Verstappen “dançou” na frente de Daniel Ricciardo, movendo o carro de direção duas vezes – o que é proibido no regulamento – provocando a batida por trás e a saída dos dois carros da equipe, tirando da Red Bull mais de 20 pontos e irritando a todos. Depois do puxão de orelhas (o termo também não era esse) e de terem escapado de uma punição da direção de prova Ricciardo – politicamente instruído – assumiu parte da culpa e os dois foram levados para a fábrica da equipe para pedir desculpas a todos, com Verstappen, visivelmente a contra gosto (100% puto da vida) diminuindo a importância do ocorrido. Resposta boa é aquela que se dá na pista e quem deu essa resposta? Ricciardo! Na Espanha, naquela pista em que ninguém passa ninguém, apesar de ter se envolvido em uma dividida que avariou seu aerofólio dianteiro, mas que permutiu que ele continuasse na pista, Verstappen conseguiu seu melhor resultado do ano, com um terceiro lugar. Em Mônaco, contudo, enquanto o australiano fez um final de semana sensacional, sendo o mais rápido em todas as vezes que os carros foram para a pista, treinos livres e nas três partes do treino classificatório. Na corrida, controlou os adversários como quis e mesmo com um problema mecânico na metade final da corrida, controlou a situação e foi beber champagne na sapatilha na frente do Príncipe Albert. Já o menino Verstappen, repetiu o feito de 2016 e no segundo S da piscina enfiou o carro no guard rail na saída da curva ainda no treino livre 3. A avaria foi tão grande que ele não conseguiu treinar e teve que largar na última posição. Com mais carro e sem fazer nenhuma nova bobagem (e mais uma vez o termo não era esse), terminou em 9° lugar, enquanto seu companheiro de time vencia a corrida. Entre a China e o Bahrein, Helmut Marko, com aquela polidez que lhe é peculiar, deixou quase que explicitamente definido que a aposta da equipe Red Bull para o futuro seria o piloto holandês. Eu gostaria imensamente de saber se ele ainda pensa assim, depois de duas vitórias de Daniel Ricciardo e dele ter saído de Mônaco com mais do que o dobro de pontos do menino Verstappen. No Canadá ele não fez das suas, o que ficou pra trapalhada da bandeirada, terminando a corrida em terceiro lugar e agora está “apenas” 34 pontos atrás de Ricciardo na pontuação do campeonato. É nessas horas que eu falo que uma coisa é piloto de Fórmula 1, outra coisa é piloto de velotrol. Quem tem mantido a equipe relativamente perto da Ferrari e da Mercedes no mundial de construtores é Daniel Ricciardo. Com as bobagens (e novamente o termo não era esse) do menino Verstappen a equipe deixou de fazer pelo menos 45 pontos no mundial de construtores, o que a colocaria na briga por este campeonato. E vão deixar o Ricciardo ir embora no final do ano? Ai vão passar atestado de burrice. Se ninguém chamar esse menino num canto e colocar um mínimo de juízo na sua cabeça ele pode passar pela Fórmula 1 como piloto rápido e desastrado e ao invés de um campeão, que até o imbecil do Nigel Mansell conseguiu ser, vai virar um novo Vittorio Brambilla e, se piorar, um Andrea de Cesaris! Abraços, Mauricio Paiva
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