Quando o caruaruense Waldner Bernardo de Oliveira colocou os pés no Autódromo Internacional de Caruaru, inaugurado em 1992, pela primeira vez, nem no mais surreal pensamento que pudesse ocorrer ele veria a si mesmo no lugar onde ele está desde março de 2018: na presidência da Confederação Brasileira de Automobilismo. Este engenheiro de produção – que confessa nunca ter trabalhado nesta área – e que é um empresário de sucesso no seguimento de entretenimento, feiras, eventos e afins, com o controle de acesso e identificação. Bem humorado, ele diz ser “um matuto” (caipira para quem é do sul/sudeste do país) que saiu da sua cidade no interior para “tentar a vida na cidade grande”. E tem dado certo! Casado, pai de um filho que é piloto (e novamente ele brinca com aquela coisa de que pai de piloto costuma ser um piloto frustrado e “veste a carapuça”), mas que viu no automobilismo também uma oportunidade de negócios e é sócio do que é, para muitos, o melhor kartódromo do estado, o Taboril, na vizinha cidade de Paulista. Mas com os pés bem no chão, vê no herdeiro uma carreira local. O filho – Bernardo – corre sua primeira temporada na Copa Palio, campeonato de turismo na região, depois de alguns anos no kart. Alto e grandalhão, Waldner não tinha um estereótipo de piloto, mas a paixão pelo automobilismo acabou levando-o para outro caminho. Começou como fiscal de pista (o famoso “bandeirinha”) e chegou onde chegou em uma das eleições mais polarizadas e divididas destes pouco mais de 50 anos da CBA. NdG: Como foi que o “matuto” Waldner veio se envolver com o mundo do automobilismo? 30 anos atrás não havia internet e eu acompanhava automobilismo comprando as revistas da época. Não havia o acesso de hoje. Waldner Bernardo: Meus pais nunca foram metidos com automobilismo. Eram funcionários de carreira do Banco do Brasil, mas minha mãe gostava de assistir as corridas do Ayrton Senna. Ele não gostava de automobilismo, era um dos tantos brasileiros que depois da morte do Senna parou de assistir corridas, diferente de muita gente, felizmente, que mesmo depois da morte do Senna continuou assistindo corridas e somos hoje o terceiro esporte do país, ficando atrás somente do futebol e do voleibol, segundo pesquisas feitas. São 28 milhões de fãs de automobilismo e pelo menos metade são aqueles “super fãs”, que assistem a tudo, acompanham tudo. Eu era um desses fãs, que acompanhava tudo pela TV, vendo o Galvão [Bueno] e o Reginaldo [Leme] nas transmissões da F1. Na minha infância automobilismo se restringia a F1. Eu estou com 44 anos de idade e 30 anos atrás não existia internet, canais por assinatura, nada disso. A gente não tinha acesso ao que acontecia como tem hoje. Imagine para um menino de 10, 12 anos de idade, morando em Caruaru? Eu comprava as revistas da época e lembro de um anuariozinho pequenininho do Reginaldo, um azul (Nota do NdG: vinha na revista Grid) e tinha os tempos de volta, de pole, eu ficava na TV cronometrando carro, aí cortava a imagem e eu perdia... era uma coisa que eu procurava interagir com aquilo ali. O segundo contato que eu tive com automobilismo foi escutar um dos caras que eu ainda não tive oportunidade de conhecer, mas vou conhecer, que é o Edgard Mello Filho, para mim um dos maiores narradores e comentaristas e é um cara que entende de automobilismo. Escutar o Edgard narrando a antiga DTM, com Bern Schneider, com aqueles Audis e Mercedes, as Alfas... e o terceiro contato foi com a notícia de que teríamos um autódromo em Caruaru. Eu tinha 15 anos de idade. Um rapaz chamado Rubens Jr, hoje acho que ele é secretário da prefeitura, ele foi no colégio que eu estudava dizendo que precisava fazer uma equipe de sinalizadores e ele foi fazendo umas perguntas, querendo ver quem se interessava, quem conhecia um pouquinho, e ele perguntou como era o capacete do Emerson [Fittipaldi] e eu que acompanhava fui respondendo. Com isso eu me destaquei e fui chamado e acabei ficando com aquela coisa de levar a turma junto, uns 30. De cara eu virei o chefe dos bandeirinhas [risos]. A capacidade que eu tinha ali, naquela hora, era de ter informação, mas aí fui aprender. Ser sinalizador, chefe de sinalização, envolvimento com federação, depois eu me afastei por um tempo para ser promotor, promovendo arrancada por 4 ou 5 anos com a Pro-Race, depois voltei para trabalhar com a federação, fui ser comissário e depois fui vice-presidente e presidente. Cheguei a ser presidente de comissão na gestão do Cleyton [Pinteiro], presidente anterior, e hoje eu estou presidente da CBA. Eu não sou, eu estou. NdG: E sobre aquilo que o senhor falou antes de todo mundo neste meio querer ser piloto, você se realiza no Bernardo? Como fica o coração de pai? E da mãe? Waldner Bernardo: Eu nunca tive oportunidade e acho que o grande sonho de todo automobilista é ser piloto. Tem gente que vira chefe de equipe, jornalista, cartola, mas todos queriam ser piloto. No meu caso, além de não ter dinheiro pra isso, na família não tinha essa cultura. Meu pai, até hoje, nunca assistiu uma corrida do meu filho. Acha arriscado, perigoso, meu filho convida, mas ele não vai. Minhas irmãs já foram ver o Bernardo correr, minha esposa lida bem com isso, apoia, ela frequentou o meio comigo com namorada, cuidava da lanchonete da arrancada, e Bernardo cresceu dentro deste meio e o que não era natural pra mim, na distância que meus pais tinham do automobilismo, hoje é uma coisa totalmente natural na nossa família. E mesmo a mística em torno do risco, do perigo de acidentes, de tudo que a gente vê e associa com isso, com F1, a gente lida bem com isso e o automobilismo praticado com todos os aspectos de segurança é mais seguro do que boxe, karatê, e outros tantos que são mais fatais, só que quando um piloto morre num acidente sempre reverbera muito e quando é na F1 é mais ainda. Tem uma frase do Bernie [Ecclestone] que eu gosto muito que ele falou quando disseram que a copa do mundo era extraordinária e ele disse que a copa acontecia a cada 4 anos e ele fazia uma a cada 2 semanas! E quem conhece a F1 por trás, pelos bastidores, da preparação que existe anotes, dos promotores de cada país, que trabalham 1 ano para aquela corrida, sabe bem o que é isso. Lançaram uma série há pouco tempo na Netflix que é fantástica, resgatando muito o que é o bastidor, do que é a F1, com piloto de carne e osso, que chama palavrão, que briga um com o outro, uma série que todo automobilista deveria assistir. E nisso o Dadai (nota NdG: apelido pelo qual o presidente é conhecido e chamado no meio) fã se mistura com o Dadai pai de piloto, com o dirigente e é difícil não se envolver por inteiro, mesmo quando se está como estamos, aqui no escritório da minha empresa, eu estou falando e pensando em automobilismo. O automobilismo me deu muito mais em termos de alegria e amizades do que eu dei a ele. A pergunta inicial era “quem eu era” e eu fui me tornando tudo isso, descobrindo um novo mundo, criando novos laços e este tem sido um ensinamento muito grande. No automobilismo a gente perde muito mais do que ganha e eu falo com meu filho sobre isso. Na vida a gente aprende muito mais na derrota do que na vitória. Num campeonato com 10 corridas, vice é campeão, mas ganhou 3 corridas, ou 4... perdeu 6, perdeu 7. Perdeu mais do que ganhou. Mas nas que perdeu você fez um segundo, um terceiro... foi gerenciando a situação. o automobilismo é diferente de qualquer esporte, por ser individual quando você vai pra pista, e hoje nem tanto, com o rádio e a estratégia, e totalmente coletivo quando chega no Box pra ajustar o carro, consertar uma batida e isso faz do automobilismo uma coisa diferenciada. Muito do que se fala se remete à F1, mas eu consegui viver no automobilismo em todos os meios possíveis, do fã, quando criança que assistiu pela TV até onde estou. A una experiência que eu não vivi foi a de ser piloto mas, em encerrado esta passagem como dirigente, que vai terminar, eu pretendo fazer uma corrida com meu filho, seja de kart ou de marcas, mas vou fazer isso. NdG: Como presidente da CBA o senhor tem contato com dirigentes do mundo inteiro e uma coisa é fazer automobilismo na Europa, nos EUA, no Japão, em São Paulo... mas o que é fazer automobilismo em Pernambuco? Quando você começou, nem autódromo tinha... Na vida a gente aprende muito mais na derrota do que na vitória. Para um piloto, ele perde mais do que ganha. Falo isso ao meu filho. Waldner Bernardo: Quando eu comecei ainda tinha corridas no Joana Bezerra (Nota dos NdG: Autódromo semipermanente que havia em Recife nos anos 80), não tive esse prazer. Automobilismo pra mim, efetivamente, começa junto com autódromo de Caruaru. Enquanto bandeirinha, a única prova que eu não pude ir foi a da inauguração, que caiu no mesmo final de semana que eu estava fazendo vestibular. Preparei a equipe, o pessoal foi, trabalhou bem, mas eu não pude estar lá. Aquela era a forma que eu podia estar mais próximo de tudo, de estar participando, mas você não tem ideia das dificuldades. Quando eu comecei a ser promotor de eventos, e falo com muito orgulho que eu consegui ganhar dinheiro fazendo arrancada em Caruaru, numa época de transição dos rachas para a arrancada, a gente chegou a colocar 2500 pagantes para assistir arrancada, levávamos algumas estrelas do sul do país pra correr lá, transmitimos corrida de arrancada pela televisão, até isso a gente conseguiu com a Pro-Race. Mas tinha prova que dava prejuízo e a gente tinha que cobrir, mas na média, deu dinheiro, mas era uma dificuldade. Quando você vem para um cenário de federação as coisas ficam mais claras, aí se vê as dificuldades pra se fazer uma prova, um evento. Muita gente acha que e não tem noção do quanto se trabalha pra se fazer um evento. De uma prova de kart para uma F1, as operações são praticamente as mesmas. O que muda são os quantitativos de pessoas, exigências e valores, mas o resto é igual. Precisa de diretor de prova, comissário, sinalizadores, médico, resgate, ambulância, troféu, pódio, cada um numa escala correspondente. Tem gente que acha que com meia dúzia de telefonemas se organiza uma prova num final de semana. As pessoas, mesmo fãs ou até automobilistas não fazem a menor ideia do que envolve a promoção de um evento, do trabalho que se tem, do que um promotor tem que captar os recursos, organizar o evento, dar o retorno aos patrocinadores dentro de um contrato de compra e venda, não só o lado da pista, da competição, da segurança, de todo o “circo” que envolve isso. Quem pegar o número de pessoas que trabalham num evento seja da Copa Truck, da Stock Car, do WEC ou da F1, a quantidade de pessoas que trabalham no evento é muito além do que se imagina, isso que ainda tem gente que vai trabalhar voluntariamente, por querer estar ali, mas tem um staff imenso que precisa receber para trabalhar. O custo de qualquer evento é muito grande e no caso do automobilismo, que envolve aspectos como segurança, é ainda maior. E quanto mais você se envolve com isso, vai vendo como é difícil se fazer automobilismo e estando numa região mais desprovida ou onde não se tem a cultura do automobilismo, que é algo que é maior no sul e sudeste, você tem que ser realista e ver que em termos de norte e nordeste a cultura é menor e os recursos também são menores. Então é preciso ser realista “no money, no race”. Olha aí o pai do [Lance] Stroll. Comprou uma equipe e está lá, tentando dar oportunidade para o filho, mas todos estão ali recebendo para trabalhar. O ano está sendo difícil nesta área. Temos uma mudança de governo que vimos muitos patrocínios governamentais serem reduzidos ou cortados. Nós tínhamos um projeto com a Petrobras para o Rally, Velocidade na Terra e Kart que tinham passado em todos os estágios do processo, mas o que recebemos da empresa é que o budget tinha sido reduzido, que era preciso honrar os contratos assinados e que praticamente não estavam assinando nada. Isso está afetando a todos e a consequência disso é que todos terão que se ajustar, vai ter que haver uma adequação de valores e isso vai a todos os níveis, dos regionais até a F1. Nestes pouco mais de 2 anos nós procuramos manter um contato muito próximo com o promotor da F1 e temos conversado muito sobre como se dá este gerenciamento do evento, que vai desde a venda de quotas de patrocinadores, onde diferentemente do que se achava, mesmo sem pilotos brasileiros, o público está comparecendo, está vendo corridas na TV, mostrando que o brasileiro gosta da F1. No cenário nacional, de pegarmos os públicos de rally como em Erechim, de etapas da Stock Car e da Copa Truck em alguns locais, são grandes públicos, mas o dinheiro da bilheteria não paga a conta do evento. O promotor tem que vender as quotas de patrocínio para a conta fechar. NdG: Se para a F1 é complicado, se para as grandes categorias do país é complicado, como fazer em lugares sem tradição, sem força como é o caso aqui da sua região? Waldner Bernardo: Fazendo um paralelo da F1 com uma epapa de kart aqui no Tamboril, nosso kartódromo, do qual sou sócio, o que acontece: não existe o patrocínio, existe o “paitrocínio”, ou um amigo que tem uma marca. A maioria dos pilotos que correm nos estaduais, correm com dinheiro do próprio bolso. Poucos tem um patrocínio. No cenário nacional, numa Stock Car, por exemplo, existem uma série de outros negócios, como por exemplo, a presença das farmacêuticas, outras empresas que não colocam, efetivamente, dinheiro, mas que permutam mercadorias, espaços, tudo para viabilizar o negócio e isso é normal, é lícito, é legal. Um exemplo: companhias de bebidas pagam a quota em produtos para um evento e se vende as bebidas no evento para com a arrecadação ter o retorno. Estas flexibilizações talvez precisem acontecer mais ainda, por puramente dinheiro está mais difícil, então isso é um caminho. Mas ainda tem aqueles caras que pagam para correr. Nos estaduais, como disse, a maioria corre pagando do bolso. Nas categorias nacionais, tem uma parte dos pilotos que conseguem vender suas quotas e com isso, injetam dinheiro nas equipes e ainda fazem seus salários, Alguns pilotos recebem salário, outros tem que trazer o dinheiro e nada disso é absurdo. Na F1 é do mesmo jeito. Na maioria das equipes, se não levar patrocínios, não corre. Isso sempre aconteceu e vai continuar acontecendo. NdG: Mas o automobilismo tem o lado esportivo, o lado comercial e o lado político. Como um presidente de uma federação do nordeste, com poucos recursos, poucos eventos, chega à presidência de uma comissão e é lançado candidato a presidência? O ano está sendo difícil. A Petrobrás cortou diversas verbas de patrocínios e temos contratos que precisam ser honrados. Waldner Bernardo: Quando começou meu mandato à frente da federação não havia rally em Pernambuco e enquanto presidente da FPEA fizemos do rally pernambucano um dos mais fortes do Brasil e era rally mesmo, não era passeio. Nós conseguimos fazer com que o kart pernambucano voltasse a figurar entre os mais fortes do país e o resultado disso está nas pistas. Temos o Rafael Câmara, que está correndo lá fora e saiu daqui, do kartódromo do Tamboril. Temos também o Kiko Porto, que está correndo lá fora e começando nos monopostos, que também começou aqui no Tamboril. E posso dizer que tem uns 8 ou 10 meninos que não seguiram adiante, não por falta de talento, mas por não ter a condição financeira, mas temos uma “safra” revelada aqui que foi fruto de uma série de incentivos, de trabalharmos junto com os promotores, revertendo parte do que era arrecadado para pagar a conta destes eventos. Além do rally e do kart conseguimos viabilizar a volta da arrancada e do regional de marcas, categorias realizadas em Pernambuco e também o Jipe muito forte. Não fizemos nenhum milagre, foi só “feijão com arroz”, trabalhando a parte de suporte e segurança, apoiando os promotores e dos pilotos, viabilizando os eventos e o fato de ter sido promotor ajuda a gente a enxergar o que cada um precisava. Se formos pegar o momento em que assumimos a federação, tivemos um crescimento, não só em numero de pilotos, mas em crescimento de eventos. E o rally pernambucano continua acontecendo e tem mais de 100 duplas participando. Na Mitsubishi Cup temos sempre pernambucanos no pódio. Hoje, no dia desta entrevista, o Kiko venceu corrida no FIA Academy e na F4 americana onde é líder do campeonato. Rafael Câmara vencendo corridas na Europa. Fazendo automobilismo com regulamentos simples, com eventos mais baratos, economizando onde dá, conseguimos mais adeptos e ter dois expoentes saídos daqui para vencer no exterior é fruto desse trabalho. O nosso marcas, que corre em Caruaru e na Paraíba, temos tido bons grids. Fácil não foi, especialmente com poucos recursos, mas uma coisa que é interessante é você conseguir fazer as coisas mesmo com poucos recursos. Se o rally de regularidade era forte, a gente investia mais nele. Se no kart as categorias Junior, mirim e cadete, investíamos mais nelas, alem disso, enquanto presidente fizemos o maior campeonato de kart indoor do país. Tínhamos 110 pilotos filiados e a premiação do campeonato era uma temporada na categoria F4. Nós identificamos que havia duas formas de se praticar o kart: ou era um menino, que ia começar como mirim ou cadete, ou era um adulto, com condição, que começa no indoor, vai para a F4 e depois tenta uma categoria sênior. Nosso trabalho era fomentar esses dois caminhos. NdG: Apesar desse trabalho, que certamente grande o público nacional não fazia ideia da existência, porque isso não chega na mídia do sul do país, quando do lançamento da sua candidatura, esta foi rotulada como sendo a candidatura do continuísmo. Como foi lidar com isso processo eleitoral e depois de eleito? Waldner Bernardo: É normal, não só seria para mim, dentro de qualquer instituição, seja uma federação, clube de futebol, partido político, em quem quer que seja o candidato apresentado pela situação, exista uma expectativa de continuísmo. Seja este bom ou ruim, isso vai depender da análise que cada um faz. Isso é normal. Em sendo eu o candidato apresentado por Cleyton [Pinteiro] (Nota dos NdG: Presidente da CBA entre 2009 e 2016), sendo conterrâneo e amigo dele, não tinha como me desvincular disso. Quando houve o convite pra que eu fosse candidato, deixei muito claro de que eu topava o desafio, agora deixei claro que, caso eleito, seria a minha diretoria e os meus presidentes de comissões e a maior prova disso estão nas nomeações que foram feitas. Quando eu assumi eu desvinculei as presidências de federação das comissões dentro da CBA. Presidente de federação não presidiria comissão. Ou seja, não existiu venda ou loteamento de cargos dentro da entidade para se angariar votos. Tivemos uma eleição muito acirrada e disputada porque, além desta ideia do continuísmo, não existia essa história de “se você votar em mim você vai ter um cargo aqui dentro”. Então, quando você vê as diretorias de comunicação, marketing e as comissões desportivas, todos eles são profissionais do automobilismo. Naturalmente isso gerou um desafio muito maior, mas existia por parte do grupo que me propôs ser candidato à presidência, esta condição de não lotear cargos e que eu faria uma gestão com a minha cara, da minha forma e não com condicionantes para eu ter votos. Eu não gosto de fazer juízo de valor, acho que a gestão do Cleyton [Pinteiro] teve coisas boas como teve coisas ruins, o que acontece em qualquer gestão, mas o que vejo como pecado era a própria falta de comunicação sobre o que era feito e nós tivemos muito cuidado com isso, de ter uma comunicação mais efetiva, e mostrar o que estava sendo feito e como estava sendo feito e, procurando estar mais atuante em redes sociais. E tudo isso está exposto no site da CBA, de quem faz o que em cada diretoria e comissão. NdG: As maiores federações do país, em número de pilotos filiados, eram contrarias à sua eleição. Passada a eleição e estes dois primeiros anos de mandato, como está a relação com esta oposição? Como eles estão vendo sua gestão? Ter sido rotuladocomo "candidato do continuísmo" era normal. Eu só aceitei ser candidato se não tivesse que lotear cargos. Waldner Bernardo: Eu já frequentava aquele meio por ser um presidente de federação. Até os presidentes de federação que não votavam em mim foram muito claros e diziam “não é por você, estou votando por não concordar com a gestão anterior e acho que você vai ser uma marionete, um boneco”. Eu não tinha como dizer que não ia ser, eu precisava provar que não ia ser. Não adianta falar, eu sou muito do fazer. Falar menos e fazer mais. É isso que estamos fazendo desde que assumi. Os fatos estão aí. O que está sendo feito pelo kart, pela velocidade na terra está aí para todos verem. Nós fizemos um planejamento e estamos tentando seguir à risca o que está lá. Eu passo item por item com quem vier nos cobrar e mostro que estamos tendo uma coerência de gestão. Mesmo no período de eleição eu nunca tive nenhum tipo de animosidade com essas pessoas, mesmo sabendo que eles tinham outro candidato, que era o Milton [Sperafico] e isso era um direito deles. Era lícito. Eles defenderam a candidatura deles, assim como nós defendemos a nossa. Quando a eleição acabou, eu disse que ou a gente trabalhava junto ou iríamos remar para trás. Eu não tenho, particularmente, nas conversas com qualquer dos presidentes, nenhum tipo de retaliação, de trabalho contra, pelo contrário, o que a gente vem tentando nesse período e foi uma tônica no primeiro ano, fazer uma aproximação para que essas pessoas mostrarem que isso não existia. Estamos tentando recuperar Tarumã há dois anos, com projetos, e buscando chegar numa situação que consigamos fazer isso funcionar. Se eu fosse para o lado político, sendo o Rio Grande do Sul uma das federações que votou contra mim, eu não faria nada disso. Não tenho nenhum problema com o Carlos [Alberto Rodrigues de Deus] ou com qualquer um deles que não votaram em mim. Particularmente eu não tenho esse tipo de problema. Se ele existe, ou não chega pra mim ou é muito bem escondido. NdG: O senhor falou sobre colocação e montagem da equipe, das comissões, e tocou num ponto que é comentado na nossa redação, fortemente, uma vez que o gestor do Projeto Nobres do Grid é mineiro, e no final da gestão anterior, houve a homologação do Circuito dos Cristais, em Curvelo, em uma pista sem a menor condição de segurança, e a efetivação do Sr. Pedro Sereno, que era presidente da federação mineira de automobilismo àquela altura, e que votou na chapa da situação, como novo presidente da Comissão Nacional de Kart. Quem foi responsável pela homologação daquele autódromo? Não foi uma tentativa de garantir o voto da FMA? Waldner Bernardo: Quem homologa autódromos é a comissão nacional de autódromos. Então tem que ver quem era o presidente da comissão na época e porque ele foi homologado. Eu posso responder sobre qualquer coisa a partit do dia 1° de março de 2019 até hoje, pra trás eu vou responder aquilo que estava dentro da minha alçada. Posso falar sobre qualquer assunto da comissão nacional de velocidade do tempo que fui presidente da comissão. Eu me afastei 90 dias antes da eleição, em outubro de 2016, me afastei até para participar dos debates que tiveram, como aquele em São Paulo que vocês estavam. Era preciso criar um cronograma de trabalho para aquela reta final e eu não posso responder por um assunto anterior ao período em que assumi. NdG: Mas a comissão que o senhor presidia era de eventos que usariam aquela praça como local de competição. Se não diretamente, indiretamente sua comissão estava envolvida, não? E a homologação foi antes do seu afastamento. Passada a eleição, eu chamei os presidentes que votaram no Sperafico e disse que precisávamos trabalhar juntos e estamos trabalhando. Waldner Bernardo: Como eu disse, eu me afastei 90 dias antes da eleição e esta homologação é feita pela comissão nacional de circuitos. A comissão nacional de velocidade cuida da homologação dos regulamentos, nomeação de comissários e acompanhamento das provas. Circuitos são com a comissão nacional de circuitos. NdG: O senhor não foi a Curvelo durante o ano de 2016 ou para a etapa da Stock Car naquele ano? Waldner Bernardo: Devo ter isso para a corrida da Stock Car. Ainda era o presidente da comissão nacional de velocidade então era natural eu estar lá, mas eu não era o presidente da comissão nacional de circuitos. Por exemplo: hoje o presidente desta comissão é Luis Ernesto [Morales]. Ele que trata da homologação de circuitos. O [Alfredo Rômulo] Tambucci trata da homologação de regulamentos, nomeação de comissários e acompanhamento das provas. São atribuições diferentes. Essa pergunta tinha que ser feita para o presidente da comissão de circuitos da gestão anterior. Isso eu não tenho condições de responder. NdG: Como entramos no assunto circuitos, o senhor tomou posse em Brasília, como foi dito na época, para expor o que é a CBA e o que é automobilismo aos nossos ilustres deputados e senadores. Qual foi o efeito pratico disso ao longo destes dois anos? Conseguimos formar um lobby no congresso para defender os interesses do automobilismo? Waldner Bernardo: Efeito prático nenhum! A intenção era essa como foi bem colocado, a gente precisava buscar representatividade, levamos a posse para lá por isso, foi criada uma comissão para tratar disso e nós estivemos em Brasília diversas vezes e em uma das vezes em que estivemos lá – não vou citar nomes por uma questão de ética – um ministro que ia nos receber para tratar de assuntos ligados ao automobilismo neste mesmo dia ele tinha pessoas muito ligados a ele que tinham sido presas de manhã. Qual era o ambiente que eu tinha pra conversar com um cara desses? Ele me recebeu e cumpriu a agenda, com educação, mas eu estava falando com ele mas sabia que ele não estava com a cabeça ali. Se vocês fizerem uma “time line”, uma análise, de quando tomamos posse até o final do ano passado, o que aconteceu em Brasília, com todas as turbulências, mudanças de ministros, de pessoas do segundo escalão, você não conseguia dar sequência a absolutamente nada. Você começava um assunto com uma pessoa e, daqui há pouco, ela saía. Começava a tentar um negócio, mudava, a expor um projeto, explodia uma “bomba”... não tinha condições. Brasília não respirava outra coisa que não fosse a sua própria sobrevivência. A gente tem uma agenda para Brasília. A questão de tributo de importação de equipamentos esportivos, tributação de equipamento nacional... um pneu de kart paga hoje quase 60% de imposto, é taxado como pneu normal. Tem uma série de coisas que podem ser mudadas, mas pra isso a gente tem que ter uma bancada, uma representatividade e este trabalho vai continuar. De forma prática a gente não evoluiu. Conversamos com muitos políticos, batemos em muitas portas, mas a gente não evoluiu não por falta de vontade ou de projetos. A gente não evoluiu porque em Brasília, de março de 2017 até o final deste ano devido a turbulência política que o país passou. Teve o impeachment da Dilma, as tentativas de impeachment do Temer, não tinha como nada ir pra frente. Agora temos um governo novo, que espero que faça bem para o país, independente de ter sido “A ou B”, porque fazendo bem para o país, para o meu negócio, para o seu negócio, para o esporte automobilismo, é necessário que tenhamos um governo que dê segurança ao pequeno, ao médio e ao grande empresário que consiga gerar emprego, aumentar esse PIB, fazer com que as coisas no Brasil circulem e é preciso, é necessário acreditar que as coisas vão melhorar. É necessário! Mas nestes últimos dois anos, alguém fez isso no Brasil? Portanto, não foi um cenário do automobilismo, da CBA, foi um cenário Brasil que não evoluiu. Um reflexo direto disso nós falamos há pouco, que foi a “travada” que deu nos patrocínios das estatais e que vai refletindo nos negócios. O efeito disso nas categorias nacionais está sendo grande, não tenha dúvidas. A agenda existe, e estamos retomando, porque é importante retomar. Com essa mudança de governo as pessoas mudam e é preciso fazer todo o trabalho de se apresentar, apresentar os projetos, falar o que é preciso, mostrar qual vai ser o retorno, o que vai gerar de emprego e receita, a importância que o negócio automobilismo tem. Então, mesmo que a gente tivesse uma agenda positiva, com a mudança do governo a gente teria que estar reformulando as propostas porque com um novo governo muitas vezes não temos um continuísmo de projetos e linhas de ação. Eu espero que essa equipe tenha sensibilidade de ver os bons projetos que aconteceram, porque nenhuma gestão é toda ruim ou toda boa, por isso é importante que a sequência de gestores dê continuidade aos bons projetos. O que é bom, potencializar. O que for ruim, corrigir. Mas estamos retomando, é necessário se fazer presente e já estive lá três vezes este ano. Reuniões pontuais, com pautas definidas e vamos trabalhando, apresentando e buscando os meios. A partir da hora que tivermos o início do retorno, vamos mostrando o histórico, de onde vem tudo. As vezes falar demais atrapalha, porque gera expectativas. É muito melhor apresentar o trabalho pronto, mostrando quando começou, como começou, como foi feito... NdG: Este “bater portas” também está a nível estadual, porque temos um autódromo semidestruído há praticamente 5 anos e que tem um impasse com a administração do DF. O que tem sido feito para encontrar uma solução? Até agora não tivemos efeito prático algum indo a Brasília. O país passa por uma situação difícil, mas precisamos acreditar que vai melhorar. Waldner Bernardo: Temos acompanhado este processo bem de perto. Não sei se vocês vão com frequência a Brasília ou quando foram a última vez. A parte do asfalto da pista está praticamente pronta, inclusive com a área de escape de algumas curvas. Faltam os elementos de segurança e as estruturas de boxes. Tiveram processos de licitação e a última notícia que tenho de Brasília é que dois grupos se credenciaram para fazer uma PPP com o governo e que o processo está no tribunal. O que esperamos é que o grupo que vença traga a melhor proposta para o automobilismo. Nas propostas, que a FADF faz parte de um grupo, quer manter o traçado, tem uma visão de como deve ser a obra. O outro grupo quer mudar parte do traçado, que seria extinto, para se construir uma outra coisa como contrapartida daquilo que se está fazendo. Como não existe almoço grátis, a cois tem que funcionar. Essas coisas de licitação são complexas, tem prazos, recursos, abre, fecha... mas seja qual for a proposta vencedora, a CBA vai estar à disposição deste grupo para fazer automobilismo e ajudar a coisa a acontecer. NdG: Isso seria colocar o autódromo dentro dos regulamentos da FIA... e o que mais? Tem mais? Waldner Bernardo: Com certeza esta situação vai ser resolvida, mas aqui no Brasil a gente tem o recurso do recurso, o embargo do embargo e muitas vezes isso faz com que as coisas não andem, mas em sendo resolvida, o autódromo de Brasília vai ter condições de receber todas as categorias nacionais e sei que os dois grupos pensam um pouco mais além, porque os projetos de estrutura estão sendo feitos para isso. Fim da Primeira Parte. |