Dois finais de semana atrás, antes das restrições da pandemia apertarem aqui em em Minas Gerais – pelo menos na grande BH – tivemos o lançamento de um empreendimento que eu faço parte da equipe de vendas. Teve aquela apresentação, com gente aos montes, aglomeração e eu não tomei nem um copo d’água pra não ter que tirar a máscara. No final, ainda consegui vender 3 apartamentos e isso foi muito bom, motivo pra comemorar e numa roda de papo de colegas, já sem público, a prosa foi para o automobilismo com um deles falando sobre Curvelo. Até que a coisa foi parar na F1 e como eu escrevo no Nobres do Grid, me perguntaram “quem ia ser nosso próximo Senna”... Respondi com minha sinceridade de sempre: “graças ao bom Deus não teremos outro!” Aí a gente tem que explicar que F1 não é igual ao que fez, fazia ou uns disseram que fazia o falecido. Depois você tem que mostrar que o falecido era como aquela história de pescador: ele até pescou o peixe, mas não era tão grande quanto ele disse e a disputa para tirá-lo da água não foi tão heroica. Além de ter feito o colega (eu ia colocar aquela palavrinha que a gente chama os admiradores do falecido, mas a editora não ia deixar passar...) torcer o nariz e engolir o café num gole só, por ter me irritado com a pergunta ridícula, fui mais além: falei com todas as letras que não acredito que voltaremos a ter um piloto brasileiro na Fórmula 1, como titular, ainda mais em uma equipe grande e com possibilidades (reais e contratuais) para disputar o título. "Segundão por contrato", Rubens Barrichello precisou passar por situações vexatórias como piloto da Ferrari. Antes que me chamem de pessimista, vamos pensar de forma realista: o que foi que a gente viu na F1, falando de brasileiros, nos últimos 20 anos? Rubinho Barrichello e Felipe Massa (vou dispensar os apelidos para levarmos o tema a sério) foram segundos pilotos que tiveram que engolir sapos para estar em uma equipe competitiva, mas onde só teriam chance de serem campeões se o 1° piloto morresse ou quebrasse as pernas. Em 2008 Felipe Massa poderia ter sido campeão não fosse aquela quebra de suspensão na Hungria ou o erro da equipe em Singapura, com o carro sendo liberado no pit stop antes de tirarem a mangueira de combustível. No mais, o que vimos foi os “hoje não, hoje sim” ou os “Fernando is faster than you”. Em 2008 Felipe Massa teve a chance da vida, mas erros da equipe tiraram seu título. Depois, com Alonso no time, virou "segundão". O que vimos depois? Nelsinho Piquet que estragou a vida ao se meter nas falcatruas do Flavio Briatore, Lucas Di Grassi fazendo número em uma equipe nanica, Bruno Senna, que se tornou piloto nas costas de um sobrenome, e Felipe Nasr, que foi preterido pelo dinheiro do patrocinador do outro piloto na Sauber. Em resumo, chances de pódio pequenas, de vitórias, mínima e de títulos, zero! Mas nada que não esteja ruim que não possa piorar. O que vemos hoje em dia são pilotos com pacotes financeiros gigantescos, como nunca se viu antes, para conseguir uma vaga no grid. Pais bilionários comprando participações acionárias nas equipes e com isso colocando seus filhos para correr e neste caminho vimos nossos pilotos ficando pelo caminho. Com isso, nossos pilotos estão desistindo da F1: Sérgio Sette Câmara, depois de conseguir os pontos da superlicença na temporada de 2019 na F2, voltou seu foco para a Fórmula E, onde fez boas corridas no ano passado e conseguiu um 4° lugar na última corrida, na Arábia Saudita depois de ter sido piloto “reserva” da McLaren, situação a qual vem permanecendo Pietro Fittipaldi, que por mais um ano na equipe Haas, onde os titulares tem um sobrenome de peso e grande interesses comerciais e o outro tem um suporte financeiro sem fim. Pedro Piquet (no melhor estilo Piquet) falou às claras sobre como o caminho para a F1 não depende do talento do piloto. Isso vem levando alguns dos nossos pilotos simplesmente mudarem seus planos profissionais. Pedro Piquet simplesmente desistiu de continuar correndo de monopostos na Europa. Com um depoimento duro e 100% realista, mostrou que sem dinheiro – muito dinheiro – por mais talento que o piloto tenha ele não vai conseguir chegar na F1 se não tiver – na falta do dinheiro – um grande interesse por trás. Pietro Fittipaldi continuará como piloto reserva na equipe Haas na F1. Enzo, o mais novo, decidiu voltar para os EUA e investir por lá. Talvez este tenha sido o maior motivo para o mais talentoso dos irmãos Fittipaldi – Enzo, o mais novo – desistir da Europa e voltar para os Estados Unidos, país onde cresceu e sempre morou, para fazer o “Road to Indy”. Este ano ele foi o campeão do torneio de F1 virtual com a Haas, com uma vitória, um 2° lugar e um 5°. À frente de seu irmão, quase repetindo a história de seu avô com o tio avô. E quem achar que ele fez a coisa errada, atire a primeira chave de roda. Na F2 nossas maiores esperanças estão com Felipe Drugovich, agora em uma equipe mais forte, mas o carro sem patrocínios é um problema. Este ano, na Fórmula 2, temos dois pilotos que – no dia que eu escrevi esta coluna – já tinham seus carros apresentados: Felipe Drugovich e Gianluca Petecof. O primeiro, venceu corridas com uma equipe média e chamou a atenção dos chefes de equipe da categoria. Este ano, vai estar numa das equipes mais fortes, mas seu carro na Uni Virtuosi não estampa nenhum patrocínio, como também não tinha no carro da MP, no ano passado. A mesma situação vemos no carro da equipe Campos onde vai correr Gianluca Petecof, campeão da F3 europeia em 2020, derrotando o favorito da equipe Prema, o irmão mais novo de Charles Leclerc (Arthur) na equipe sócia da Ferrari. O carro não estampa nenhum patrocínio e a equipe foi onde Guilherme Samaia sofreu durante toda a temporada de 2020. Depois de deixar a equipe Prema e a academia da Ferrari, Gianluca Petecof vai correr na F2 na equipe Campos, com pouco patrocinio. Quando a gente olha para Felipe Nasr e Pipo Derani vencendo corridas no IMSA, Enzo Fittipaldi visando a Fórmula Indy, Felipe Fraga correndo de GT pelo mundo e não vemos nenhuma empresa, ou um empresário capaz de reunir empresas para investir em um piloto brasileiro para chegar na F1, o que eu falei para meu colega de trabalho vai se tornando a nossa realidade... presente e futura. Tomara que eu esteja errado! Abraços, Mauricio Paiva |