Olá fãs do esporte a motor,

Uma das coisas mais prazerosas deste seguimento na psicologia que decidi abraçar foi abençoado com a possibilidade de poder conviver e interagir com algumas das maiores celebridades do esporte em todo o mundo.

Mais do que isso, pude conhecê-los profunda e intensamente e partilhar de todos os seus momentos – dos mais alegres e relaxados aos mais tensos e tristes – ao longo dos anos que ele passaram freqüentando meu consultório, desde os primeiros anos em Cuiabá-MT até as sessões virtuais por conta da pandemia.

Com o tempo, alguns deixaram as atividades esportivas e acharam por bem parar com o processo de terapia. Outros continuam meus pacientes até hoje, mas o mais comum é vê-los deixarem de lado a terapia com o fim das pressões impostas pelo esporte de alto rendimento.

Uma pessoa que, caso deixe os nossos encontros regulares, vou sentir uma falta em particular vai ser Valentino Rossi. Entre todos os meus pacientes ele foi, disparado, o mais divertido. Mesmo nos momentos de maior pressão e angústia, Valentino sempre procurou uma forma de enfrentar de forma positiva os desafios que a vida sobre duas rodas e as relações com as equipes onde andou como com os adversários.

 Valentino Rossi anunciou que esta será sua última temporada como piloto na MotoGP. Chega ao fim um ciclo!

Psicologicamente falando, aquele que o público via e vê como o “cara legal” que ele retrata pessoalmente com o homem muito diferente que ele se tornaria se você se aproximasse dele na pista. Ali a relação era a de adversários e Valentino Rossi conseguiu fazer campanhas psicológicas muito pesadas – e eficientes – contra os rivais como Max Biaggi, Sete Gibernau, Jorge Lorenzo e mesmo Marc Márquez.

A chave do sucesso de Valentino Rossi na motovelocidade, desde a categoria 125cc até as motos atuais, o equilíbrio entre a grande potência e pneus sem resistência suficiente fazia com que a sensibilidade do piloto precisasse de ajuda e nisso ele teve no seu chefe de equipe, Jeremy Burgess, mostraram que, com o controle dos dados na pista, as motos poderiam ter uma vantagem de vitória com mais facilidade e segurança. Eles tornaram absurda a ideia comum de que o que vence as corridas é andar no limite do controle.

 Foram mais de 100 vitórias, quase 200 pódios, e nove títulos mundiais. Valentino Rossi vai ter uma página à parte na história.

O estilo de pilotagem de Rossi era mais clássico do que revolucionário, baseado na “grande linha europeia”, numa época em que pilotos japoneses se destacavam. A ascensão de Rossi nas categorias o forçou a dominar o estilo de velocidade em curvas que a falta de forte aceleração das motos pequenas tornava necessário. Foi assim que ele conseguiu vencer 11 das 16 corridas de 2001 para sagrar-se campeão.

Os pneus evoluíram, os adversários evoluíram e Valentino foi ao ápice, mas em um dado momento todo esportista precisa analisar friamente que está entrando em uma curva de declínio. Isso acontece para todos e nos últimos anos, este foi um dos temas mais recorrentes em nossas sessões: até onde valia a pena continuar em cima da moto? Mas parar e mudar de vida não é fácil para nenhum esportista, ainda mais quando ele se encontra forte e bem, física e mentalmente.

 O torcedor da motovelocidade é muito apaixonado, mas os torcedores de Valentino Rossi eram ondas de um mar amarelo.

Valentino pretendia correr até o final da temporada de 2022, mas ele veio questionando seu futuro ao longo do ano. Ele insistiu que estava mais confortável com a ideia de se aposentar agora do que em qualquer momento no passado... mas isso continua não o deixando confortável. Desde que o príncipe Abdulaziz bin Abdullah Al Saud da Arábia Saudita declarou seu desejo de que Rossi se juntasse ao meio-irmão Luca Marini na equipe saudita VR46 Ducati MotoGP no ano que vem, as especulações aumentaram se ele continuaria com as cores de sua própria equipe. A proposta até surgiu de forma concreta, mas Valentino foi consciente em sua análise de que um projeto como esse é algo par duas ou três temporadas, um tempo que ele admitiu, a contragosto, não ter mais.

Valentino vai parar de corre na MotoGP. Sentiremos todos a falta do mar amarelo nas arquibancadas, tomada pela fumaça dos sinalizadores. Sentiremos todos a falta das comemorações criativas e inusitadas, que outros tentaram imitar, mas sem a mesma naturalidade e originalidade. Sentiremos falta do sorriso largo e do sotaque carregado nas entrevistas em inglês, mas o lugar de Valentino Rossi na história do esporte mundial está garantido para sempre.

 As comemorações inusitadas marcaram a trajetória de Valentino Rossi e isso levava os autódromos e fãs da TV ao delírio. 

Beijos do meu divã,