Quero fazer uma pergunta aos meus leitores: é só comigo ou com vocês também que, quando recebemos a notícia da morte de alguém que conhecemos – pessoalmente ou por ela ser conhecida publicamente – esta pessoa “vira boazinha”, as vezes “quase uma santa pessoa”? As pessoas, ao menos aqui no Brasil, uma vez que nunca morei fora daqui, pensam e agem assim em sua grande maioria. Somos benevolentes, né? Evidente que existem exceções, como aquele político que não gostamos ou algum famoso pelo qual nutrimos algum tipo de antipatia quase patológica, algo que nossa Editora, Dra. Catarina Soares, tem mais conhecimento para falar. Mas somos capazes de “passar a régua” e purificar até aquele cara da rua em nossa infância que vivia nos perseguindo. Frank Williams faleceu no último dia último dia 28. A gente que gosta e assiste Fórmula 1 sempre vai lembrar dele. Eu comecei a ver as corridas no final dos anos 80, mal me lembro do tricampeonato de Nelson Piquet, mas vi aquele “carro de outro planeta”, como chamava o falecido Senna, nas pistas nas mãos do pouco inteligente (vou dar uma suavizada) Mansell e de um “burocrático” Prost antes de se tornar – já sem os recursos tecnológicos – o último carro de corrida do finado. Frank Williams era um dos "garageiros" da F1 dos anos 60/70... e dos pobres! Não era construtor, tinha que comprar seus carros. Eu e todos que gostam muito de Fórmula 1 leu alguma coisa sobre a Williams, seu dono, seu sócio (o para mim intragável) Patrick Head e sua trajetória. Ao assumir o compromisso de escrever para um site da automobilismo, precisei ler bastante e foi lendo bastante sobre a história de Sir Frank Williams que aprendi a respeitar sua trajetória de sucesso, dentro e fora das pistas, de uma pessoa que trabalhou muito para alcançar o sucesso. Acontece que o caminho para o sucesso não é feito apenas de bondades. É preciso alguma dose de maldade ou como certamente diria meu parceiro aqui do site, Paulo ‘Shrek’ Alencar, também saber ser filho da... (a palavra não era bem essa) nos momentos certos. Quem um dia não o foi, atire a primeira porca de roda! Este será canonizado e mesmo com todas as dificuldades enfrentadas – algumas vencidas, outras não – por Sir. Frank Williams, ele passa longe de ser alguém a ser canonizado. Com dinheiro dos árabes e o cérebro de Patrick Head, a equipe cresceu e se tornou uma das maiores da categoria. Antes de ser ‘Sir’, título de Cavaleiro da Coroa Britânica, Frank Williams teve que trabalhar muito para chegar ao sucesso. Nos anos 70 sua equipe nem construía os carros, comprava-os da March e os preparava para as corridas. José Carlos Pace correu para ele e era uma pessoa que Frank Williams respeitava e admirava. Ele teve uma enorme ligação com os brasileiros. Depois de Pace, trabalharam com ele, pilotando seus carros, Nelson Piquet, o falecido Senna, Rubens Barrichello, o ‘primeiro sobrinho’ Bruno e Felipe Massa. Até 1977, quando conseguiu um grande patrocínio (Saudia) de um grupo saudita e Patrick Head se juntou a equipe, a Williams era uma equipe pequena e sem recursos. Com dinheiro e um corpo de engenheiros bem chefiado, tornou-se – primeiro – uma equipe vencedora e então uma equipe campeã e colecionadora de títulos. De pilotos foram 7 (1980/82/87/92/93/96/97) e de construtores outros 9 (1980/81/86/87/92/93/94/96/97). Frank Williams dava mais valor ao título de construtores do que ao de pilotos (apesar de falar o contrário para jornalistas). Estabeleceu parcerias com a Honda e depois com a Renault para ter motores competitivos e contou com Adrien Newey nos anos 90 para projetar seus carros. A equipe tinha suas "peculiaridades" e pilotos que eram "os escolhidos", pagaram caro. Algo que ficou explícito já em 1981. Mas como eu disse no início, todo mundo quando morre vira uma pessoa boazinha e Frank Williams não era “bonzinho”. Se pudesse – uma vez que também já foi dessa para outra – Carlos Reutemann o que diria: comeu o pão que o diabo amassou em 1981 e acabou perdendo a disputa do título contra Nelson Piquet, que também teve um ambiente pesado (mais por culpa de Patrick Head) em sua passagem na equipe entre 1986/87. Mas nada como “dispensar um campeão mundial” como ele fez (três vezes) com Nigel Mansell, Damon Hill e Jacques Villeneuve em 1992/96/97, respectivamente. Isso mostra bem que o compromisso de Frank Williams era primeiro com a Williams, depois com o resto. Mansell, Hill e Villeneuve: três campeões que não tiveram seus contratos renovados após as suas conquistas. Isso nem sempre deu certo. Com saída da BMW no final da década de 2000 e as mudanças nos negócios em torno da Fórmula 1, ele foi perdendo terreno. O “último suspiro” foi com a mudança de regulamento de 2013 para 2014 e a parceria com a Mercedes para usar seus motores. Alguns pódios, umas poles. Foi o “eco do canto do cisne” da vitória isolada e surpreendente de 2012 com Pastor Maldonado. As sequelas do acidente que sofreu em 1986 numa estrada na França cobrava ano a ano uma fatura cada vez mais alta e na reta final ele deixou o comando da equipe para sua filha Claire, que só havia trabalhado com comunicação na Williams. A coisa não funcionou! Assim como outros tiveram seus grandes momentos e depois viram seus nomes no fundo do grid como Ken Tyrrell e Guy Ligier, a Williams voltou aos resultados dos tempos de equipe pequena no início dos anos 70 até ser vendida para um grupo de investimento, o Capitol, que manteve o nome da equipe. Agora, com a morte de Frank Williams, não sei se o nome será mantido por muito tempo. Nos seus últimos anos, Sir Frank passou o comando da equipe para sua filha Claire. Os últimos anos foram sofríveis. Frank Williams pode ter recebido a bandeirada final, mas seu legado – com erros e acertos – ficará e com mais de 700 GPs disputados, com sete títulos de pilotos e nove de construtores, 114 vitórias, 313 pódios e 128 pole positions, bonzinho ou não, teremos todos o dever de respeitá-lo sempre. Abraços, Maurício Paiva Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid. |