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Uma grande mulher chamada Claire Williams PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 10 December 2021 22:33

Olá fãs do esporte a motor,

 

Apesar de já terem se passado quase duas semanas desde que comecei a escrever esta coluna (interrompida por lágrimas algumas vezes), ainda me custa muito e profundamente os sentimentos pela morte de Frank Williams. Como não ter uma ligação com ele, que além de ter aberto as portas para tantos pilotos brasileiros correrem em sua equipe, deu a primeira chance para Ayrton Senna pilotar um Fórmula 1?

 

Além disso, minha relação ficou mais estreita quando, ainda no seu primeiro ano à frente da equipe, Claire Williams me procurou para fazer terapia. Foi o primeiro chefe de equipe que me procurou para fazer um trabalho de busca interior e fortalecimento mental, algo que ela sentiu necessidade após assumir o controle de todas as operações da equipe, nomeada por seu pai.

 

Claire foi minha paciente até o final do ano passado, quando decidiu parar com a terapia. Apesar do fim da relação profissional, eventualmente ela me telefonava para conversar sobre assuntos variados. Acabamos por criar um vínculo que foi além do Divã. Não posso chamar de amizade. Considero amizade uma relação mais profunda, mas tínhamos alguma proximidade e eu gostava disso.

 

  

Quando fiquei sabendo da morte de Sir Frank (eu sempre me referi a ele desta forma), liguei para ela para dar meus pêsames. Ela agradeceu e perguntou como eu estava com relação a tempo. O que eu podia dizer para ela? Disse que para ela tinha todo tempo do mundo. Ela agradeceu, disse que precisava fazer algumas coisas antes da cerimônia fúnebre, mas que gostaria de me ligar. Deixei-a à vontade para fazer isso quando ela quisesse.

 

Claire me telefonou na manhã da segunda-feira (horário de Londres), noite de domingo em San Diego. Ela sabia que não havia quase nenhum risco de eu estar com algum paciente. Pela hora e pelo fuso passava um pouco das 4 da manhã na Inglaterra. Ela estava acordada desde então e simplesmente não conseguia dormir (quem conseguiria?). Apesar da saúde fragilizada, um filho nunca espera ou está pronto para o dia da partida dos pais.

 

 

Ela contou que a saúde de seu pai estava ficando mais precária a cada dia e na manhã do domingo teve que leva-lo rapidamente para o hospital. Não havia muito a ser feito e ele “simplesmente descansou, de forma tranquila e em paz”. Por mais impactante que é a perda de um familiar, especialmente dos pais e no caso de Claire, alguém com uma história de vida como a de seu pai, além de cuidar das questões ‘pós-morten’, era preciso avisar ao meio do automobilismo o que havia acontecido.

 

Pouco a pouco ela foi telefonando para as pessoas mais próximas como Stefano Domenicali, Jean Todt e Ross Brawn. Logo comunicou aos membros da equipe e assim logo os meios de imprensa britânicos foram igualmente informados. Ele faleceu em um domingo de corridas, um domingo que, caprichosamente, neste calendário apertado com tantas corridas, não tivemos etapa da Fórmula 1, sua maior paixão depois da família.

 

Claire sempre falava de como era amorosa a relação dela e de seus irmãos com seus pais quando sua mãe faleceu de câncer em 2013, aquele foi um golpe terrível em Sir Frank e ela sempre achou que a partida de sua mãe pesou na decisão dele se afastar do comando da equipe. Os comunicados que vieram de todos que estavam espalhados pos suas residências e países foi rápido e ficou evidente como Sir Frank era respeitado no meio onde esteve por quase 50 anos.

 

 

Britanicamente (se é que isso existe), Claire mostrou seus sentimentos ser externar sinais físicos. A voz estava pausada como sempre, em alguns momentos um pouco mais. Embargada, mas não chorosa, mas como sempre foi comigo, aberta e franca como devem ser conversas entre amigos. Esta coluna foi escrita antes do último GP da temporada, em Yas Marina. Claire e eu nos falamos mais duas vezes antes de eu terminar o texto. Se eu já a respeitava e admirava, hoje a respeito e admiro muito mais.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares