Alguns meses atrás nosso site publicou um artigo sobre os autódromos argentinos e de como eles tinham 10 autódromos de nível internacional, alguns melhores até que o nosso Interlagos atual (veja o artigo aqui).

Os autódromos mais recentes – em piso de asfalto – construídos no Brasil foram em meu estado natal, Minas Gerais. Em Curvelo fizeram o “Circuito dos Pequizais” e em Lima Duarte, perto de Juiz de Fora, fizeram o “Viagra”. Em ambos os casos perderam-se oportunidades de construírem bons circuitos, mas deixaram a desejar e acabaram ficando de fora dos calendários das principais competições do país.

Muita gente acha que “de boas intenções o inferno está cheio” e eu acredito que as pessoas envolvidas nos projetos de Curvelo e Lima Duarte tinham as melhores das intenções, mas o trem foi pra estação errada! Em Curvelo, conseguiram fazer um autódromo com 4.400 metros sem uma reta de sequer 700 metros, sem áreas de escape nas curvas e que, mesmo tendo sofrido uma reforma para criar um “traçado alternativo no ‘modelo três mil e poucos metros’ dos autódromos existentes”, não conseguiu se estabelecer no calendário das principais categorias do país, ajudado pela infraestrutura da região.

Em Lima Duarte, perto de Juiz de Fora, uma cidade com uma infraestrutura melhor do que Curvelo, “espremeram” um autódromo entre dois morros e, mesmo com aspectos de segurança bem melhores que os de Curvelo, o traçado é estreito, extremamente travado e – assim como em Curvelo – carece de uma reta decente (a maior tem 645 metros). O resultado foi o mesmo: depois de tentarem fazer um evento grande com a Copa Truck (que não voltou depois da única ida por lá), a Stock Car nem cogitou reservar data.

Nesta década que está começando, parece que estão saindo do papel projetos redentores, com formatos interessantes e – de forma inteligente – e sabiamente seguindo as orientações de Luis Ernesto Morales, presidente da Comissão de Autódromos da CBA e membro desta comissão na FIA, para não repetir os erros cometidos nos autódromos construídos em Minas Gerais.

Chapecó: finalmente um autódromo de asfalto em Santa Catarina.

Com 4.100 metros e um terreno de 50 hectares, o novo autódromo asfaltado de Chapecó será construído na linha Cachoeira, próximo à SC-480. O terreno está localizado a 20 quilômetros do Centro do município e a 7 km do porto Goio-Ên. O projeto deve se tornar realidade em dezembro de 2023 e promete ser um dos autódromos mais modernos do país, com o custo previsto incluindo a aquisição de área, implantação da pista,  edificações, cercas, arquibancadas e estacionamentos, com investimento aproximado de 50 milhões de reais, 18 dos quais vindos da venda da área do antigo autódromo de terra. O restante do investimento vai ser, segundo a prefeitura, feito numa parceria público-privada.

Sem querer inventar a roda, o engenheiro responsável pelo projeto do complexo, Heinz Jakob Scheuren, esteve em São Paulo, para reunião com o presidente da Comissão Nacional de Circuitos, Luis Ernesto Morales, que esteve em Chapecó nos dias 1 e 2 de julho do ano passado para inspecionar o local da pista e depois aprovou a viabilidade do local após analisar e orientar os responsáveis pelo projeto para sua execução.

Uma das especificações do contrato assinado com o escritório de engenharia, passa pelas adequações para que, depois de construído, seja solicitada e aprovada a homologação na categoria “FIA 2” (A mesma do autódromo de Terras de Rio Hondo, na Argentina), para receber eventos nacionais e internacionais de automobilismo, com todas as exigências de infraestrutura e equipamentos de apoio, o que inclui espaços como acessos, torre de controle, boxes, parque fechado, paddock, centros médico e de imprensa, arquibancadas, estacionamentos, heliponto e local para ambulâncias, além de uma pista separada para competições de arrancada.

Itatiaia: no Rio de Janeiro, mas com os olhos em São Paulo.

Após a frustração com o fantasioso autódromo do empresário que não tinha capital, não tinha terreno e não tinha credibilidade e depois de passados quase 10 anos desde a demolição do autódromo de Jacarepaguá para a construção do conjunto de elefantes brancos pós-olímpicos, o estado do Rio de Janeiro está no caminho de voltar a ter um local para sediar eventos e provas automobilísticas de categorias nacionais (o estado possui um autódromo em Campos dos Goytacases, mas que comporta apenas categorias regionais).

O projeto do Itatiaia Motor Park, como o nome sugere, será construído na cidade do interior do fluminense, às margens da rodovia Presidente Dutra, distante 180 Km da capital fluminense (e 267 Km da capital paulista) tem um enorme apoio do prefeito local, Sr. Irineu Nogueira, e também como o nome sugere, não vai se limitar a ser um simples autódromo, integrando uma pista off-road, que também estará apta para sediar provas profissionais de modalidades fora-de-estrada. A terceira atração será um kartódrodromo com uma pista de 1.100 metros e diversas possibilidades de traçado. Além da parte de competição, o projeto inclui um complexo irá receber dois eventos culturais e um centro comercial

O traçado da pista tem 4.200 metros de extensão, seguindo os padrões CBA e da FIA, que pretende pedir a homologação no grau FIA 3, podendo assim atender as exigências das principais competições nacionais, como Stock Car, Porsche Cup e Formula 4, entre outras. Uma grande vantagem para os promotores de eventos é o fato da região ser turística e contar com uma ampla rede hoteleira, restaurantes e estrutura para eventos de porte.

Agora é esperarmos que os autódromos fiquem prontos e os promotores das categorias do nosso automobilismo levem eventos para estas novas praças. O Brasil ainda tem dois autódromos que poderiam receber corridas caso passassem por reformas estruturais: Campo Grande e Caruaru, mas aí envolve a iniciativa pública e quando a política decide atrapalhar o esporte e os negócios... é freio de mão puxado!

Abraços,

Mauricio Paiva