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A idade alcança-nos a todos PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 30 December 2022 20:40

Ainda me lembro bem de boa parte do pelotão quando comecei a assistir aos Grandes Prémios, na minha infância, como boa parte de vocês. Pilotos que, no inicio dos anos 80 do século passado, corriam em carros feitos em aluminio ou em fibra de carbono, com e sem Turbo, com capacetes de diferentes cores e padrões que ficavam para toda uma carreira – e não mudados 365 ocasiões por ano! – e correndo às voltas em pistas, na maior parte das quais na Europa e Estados Unidos. Claro, cheguei a assistir a corridas no parque de estacionamento de um casino, mas esses arranjos eram típicos do Bernie Ecclestone. Agora, fizeram da Peninsula Arábica um novo ponto de paragem da Formula 1.

 

Mas ainda recordo dos seus pilotos, desde os mais consagrados até aqueles que conseguiram comprar um lugar e estar na primeira fila para correr entre os consagrados. Não os chamarei de gentleman drivers porque não são amadores ricos, mas chamá-los de profissionais qualificados é algo que tende ser exagerado.

 

 

E no mês que passou, sabendo da morte de dois desses pilotos dos (já distantes) anos 80 do século XX, mais a condição de um terceiro, recordou que já não só sou a garoto deslumbrado que se apaixonou pelo automobilismo e respectiva velocidade, como já caminho para a terceira idade...

 

 

No passado dia 7 foi Patrick Tambay, depois de uma década a lutar contra o mal de Parkinson, e quase três semanas depois, a 23, foi Philippe Streiff, que com 67 anos e depois de 33 restrito a uma cadeira de rodas devido à sua tetraplégia, sucumbiu por causa de complicações de saúde. De uma certa forma, o desaparecimento destes pilotos era, de uma certa forma, esperado, porque a sua decadência era mais que conhecida. Mas mesmo assim, as noticias dos seus fins entristecem-nos e pensam acerca do tempo, que não espera por ninguém, não congela e nos lembra que a idade nos apanhará a todos.

 

 

Contudo, pelo meio do mês, soube da situação de Slim Borgudd.

Quem não sabe, foi um piloto sueco que teve uma carreira invulgar, primeiro como musico – era baterista de grupos locais no inicio dos anos 60 – e amigo pessoal de Benny Andersson e Bjorn Ulaevus, dois dos membros da banda ABBA. Seguindo a sua carreira automobilistica, chegou à Formula 1 em 1981, aos 34 anos de idade, com o apoio dos seus amigos, e arranjou um lugar na ATS. E em Silverstone, com uma corrida de atrito, acabou no sexto lugar, conseguindo um ponto. No ano seguinte, correu em três provas pela Tyrrell, antes do dinheiro acabar e ser substituido pelo britânico Brian Henton.

 

 

Pois bem, depois de uma longa carreira, Borgudd decidiu ir morar em Coventry, na Grã-Bretanha, onde se encarregou de montar uma preparadora, a Slim Racing. E recentemente, dei por mim a ler um apelo numa entrada de um amigo meu nas redes sociais, onde fala que Borgudd, agora com 76 anos, sofre do mal de Alzheimer, e precisa de ser cuidado de forma permanente. Essa pessoa tinha feito uma angariação de fundos, no sentido de arranjar 10 mil libras para fazer a sua vida mais agradável. À altura em que escrevo estas linhas, conseguiu cerca de 8600 libras, através da plataforma de crowdfunding justgiving.com. Alguns já deram 750 libras, o que é um feito, mas esta é uma doença sem cura e o melhor que se pode fazer é tornar a sua vida mais confortável.

 

 

E depois, começo a pensar nessa geração. Nem todos acabaram a sua existência com uma bola de fogo e pedaços a voar por todos os lados. Lembro dos últimos dias de Niki Lauda, enfermo com uma doença nos rins que o faxia entrar e sair do hospital, para além dos plumões, os mesmos que ficaram afetados pelo seu acidente no Nordschleife, em 1976. O facto de ter vivido mais de 40 anos com orgãos danficados foi um feito, mas no final, apesar das cicatrizes fisicas e psiquicas, ficou enfraquecido e sofreu bastante até morrer.

 

 

E também lembro da velhice de outros. Sei que Jacques Laffite, por exemplo, está a lidar com Parkinson, em menor grau. Para o ano fará 80 anos, e tenho a certeza que não andará neste planeta por muito mais tempo. Chegará o seu dia e começarei a contar pelos dedos das mãos aqueles que ainda andarão por aqui e recordar os seus dias de quase meio século antes, das nossas infâncias, dos tempos em que achamos que apareceram as melhores máquinas do mundo, as mais potentes delas todas.

 

 

Bem sei que o passado está nos museus, mas recordar todas essas pessoas que arriscaram as suas vidas correndo em máquinas ultra-potentes, faz lembrar esses tempos nostalgicos e despreocupados. Mas como todos sabem – e poucos se lembram – o Tempo, esse, está aí para nos apanhar a todos. E assistir à decadência dos nossos heróis enche-nos de tristeza.

 

Saudações D’Além Mar

Bom Ano a todos!

 

Paulo Alexandre Teixeira

 

 

Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid.