Um dos maiores problemas na vida de um corretor de imóveis fã de automobilismo sempre foi o fato de se estar trabalhando nos finais de semana (em geral) e aos domingos (em particular), recebendo clientes nos empreendimentos imobiliários. Como precisamos dar atenção aos potenciais compradores (ou “transformar” curiosos em potenciais compradores), o foco não pode ficar na tela do celular, que atualmente nos permite assistir o que está passando na TV pela contratação de planos de assinatura, mas – graças a cobertura diferenciada da TV Bandeirantes – também pela disponibilização de VTs para podermos assistir à noite o que não pudemos ver durante o dia.

Neste final de semana de abertura dos “Campeonatos FIA”, com as Fórmulas 1, 2 e 3, além dos treinos e corridas das três categorias (globolixo nunca mais!) ao longo da sexta-feira, sábado e domingo, algo que a TV Bandeirantes vem proporcionando a nós, fãs do automobilismo, como nunca tivemos em nosso país, além das coberturas da imprensa – tanto a “tradicional” como a eletrônica – com sites, blogs, podcasts e outros recursos, onde aproveito para parabenizar meus colegas Genilson ‘Falcon’ Santos, Alexandre ‘Gargamel’ Bianchini e Luiz Carlos ‘Vlad’ Lima por suas publicações após este primeiro final de semana de ação nas pistas.

Lamentavelmente, nem todos os meios da imprensa tem o elevado padrão de isenção do Nobres do Grid e pudemos ver, mesmo antes deste final de semana, ainda no período de testes pré-temporada, o fanatismo desenfreado de gente que é “profissional” (na verdade, são assalariados. Pra mim, profissional é outra coisa) num “pachequismo” desenfreado, torcendo para que Lance Stroll não pudesse disputar o GP do Bahrein e fosse substituído por Felipe Drugovich, que pilotou o segundo carro da Aston Martin nos testes pré-temporada.

Foram cenas deploráveis – as da televisão, com direito a áudios inacreditáveis – e no caso do que saiu em texto na internet, coisas ainda piores. Durante os treinos tivemos “comentaristas” chamando a FIA de negligente e irresponsável por liberar o piloto pra correr. Dizendo que ele não conseguiria sair do carro no tempo mínimo estabelecido pela FIA, como se os médicos, que já impediram tantos pilotos de voltar às pistas após acidentes em treinos, fossem um bando de irresponsáveis.

Após os primeiros treinos, fiz uma descoberta sensacional em relação aos envolvidos nas transmissões da televisão: todos viraram especialistas em traumatologia! As colocações sobre os movimentos de pulso, lesões ósseas e de tendão foram para “fazer inveja” a muitos médicos da especialidade. Mesmo assim, acredito que os referidos comentários não chegaram à FIA ou mesmo à Aston Martin, que manteve o piloto escalado e este, não apenas “resistiu” aos esforços da corrida como chegou à frente da Mercedes de George Russell.

Neste processo todo, o único personagem que se manteve com uma postura realmente profissional foi o piloto brasileiro, Felipe Drugovich. Durante os treinos da pré-temporada fez tudo o que a equipe programou. Não errou na pista (não rodou ou bateu) e em momento algum, sempre que entrevistado, ele deu qualquer indicação ou mesmo passou alguma expressão que corroborasse com o “pachequismo” da mídia nacional. Certamente o processo de “media training” funcionou bem, mas a índole do piloto também pesa nessas horas. Ele não foi um “mimizento”.

Falando em “mimizento”, Enzo Fittipaldi recebeu o “cartão de apresentação” de seu companheiro de equipe na Fórmula 2, o Barbadiano Zane Maloney. Recém promovido da Fórmula 3, o piloto do Caribe mostrou que tem calibre (oh, trocadilho infame) e que não vai ter o menor respeito (esportivamente e dentro da ética de competição, claro) com o companheiro de equipe, recém integrado ao programa de jovens pilotos da Red Bull.

Os dois pilotos não conseguiram fazer uma boa classificação, com Enzo Fittipaldi largando na 13ª posição e Zane Maloney na 18ª em um grid de 22 carros. Contudo, em ritmo de corrida, os carros da equipe Rodin Carlin mostraram um bom ritmo de prova e os dois tiveram uma boa progressão no decorrer das 19 voltas da corrida do sábado, com Enzo Fittipaldi chegando em 8º lugar (marcando 1 ponto) e Zane Maloney em 9º, muito próximo do piloto brasileiro.

Na corrida do domingo, largando ambos nas mesmas posições do sábado, eles tiveram sorte em não se envolverem nas confusões da primeira volta e ganharam muitas posições, especialmente Zane Maloney, que não demorou a chegar na posição imediatamente atrás de Enzo Fittipaldi. Após as trocas de pneus aconteceu o que – na Fórmula 1 estamos acostumados a ver – mas na Fórmula 2 as coisas são bem diferentes.

Com cinco pilotos em um pelotão compacto atrás do 4º colocado na corrida, enquanto Enzo Fittipaldi parecia estar buscando poupar os pneus para um ataque mais para o final da prova, Zane Maloney começou a pressionar o brasileiro que “reclamou” no rádio, pedindo para equipe “explicar para o companheiro de equipe que ‘a corrida era longa’ e que ele deveria ter mais paciência”. O barbadiano retrucou e disse: “sinto muito, mas eu estou aqui para correr”!

Ele não só foi pra cima de Enzo Fittipaldi e tomou sua posição como foi pra cima do pelotão inteiro, passou por todos e saiu à caça do terceiro colocado, Kush Maini, alcançando e ultrapassando o piloto indiano para chegar ao pódio em seu primeiro final de semana na categoria. Enzo Fittipaldi? Bem, ele teve mais dificuldades com os pneus, não conseguiu avançar e ter terminado em 9º lugar foi quase um prêmio.

Pelo pouco(?) que conhecemos do temperamento nada flexível e amistoso de Helmut Marko, esse “mimimi” de Enzo Fittipaldi para manter o companheiro atrás dele e tentar fazer um “jogo de equipe” para ambos ganharem posições é uma postura totalmente oposta ao que fez e faz Max Verstappen, principal piloto rubro taurino e a caminho do tricampenato mundial de Fórmula 1. “Mimizentos” não tem vez com o “ciclope” como se refere nosso colunista Alexandre Gargamel Bianchini e Enzo fittipaldi que fale menos, corra mais e abra o olho.

Abraços,

Mauricio Paiva