Junho de 2023 marcará o centésimo aniversário das 24 Horas de Le Mans, mas infelizmente eu não estarei lá. No entanto, em junho de 1973, cinquenta anos atrás, eu estudava em Le Mans e acompanhei a corrida do 50º aniversário.

Muito antes de imaginar que a minha vida estaria tão intensamente ligada à indústria automobilística, minha história esteve ligada a este que é um dos maiores eventos do automobilismo mundial. Tudo começou em Le Mans, em setembro de 1968, quando cheguei na Escola Preparatória e Técnica Militar (EMPT) que fica em Le Mans.

1968: EU DESCUBRO AS 24 HORAS DE LE MANS

Maio de 1968, a França está agitada. É uma revolução social.  Uma das consequências é a transferência das 24 Horas de Le Mans de junho para setembro, com pelo menos mais três horas de condução noturna.

Como fazia parte da banda música do EMPT tive a oportunidade de desfilar para a abertura das 24 Horas de 1968. Claro que tocamos a Marselhesa. Então, descubro o circuito e o corrida com meus colegas de classe. Estamos na curva perto da Ponte Dunlop.

É a corrida que vai determinar a atribuição do título entre Ford e Porsche. Ainda havia o tipo “Le Mans” de largada criado em 1925 com os pilotos correndo em direção ao seu carro. Eles pulavam nos carros e arrancavam sem colocar o cinto de segurança. Esta será uma das razões para a abolição deste tipo de partidas em 1970. Mas em 1969, enquanto todos os pilotos corriam em direção a seus carros, Jacky Ickx atravessou a pista com calma. 24 horas depois chegava em 1º.

O soberbo Ford GT40 Gulf Oil azul e laranja vence a corrida à frente de dois Porsche 908 e, portanto, o título mundial. Descubro o Chaparral e seu spoiler como o Chevron B16. Há também um Matra 630 com Henri Pescarolo e Alpine A 210s. Um ano ruim para a Ferrari. Enzo Ferrari não foi a Le Mans.

A fim de não sermos notados, apesar do nosso corte de cabelo militar, trocávamos nossos uniformes para roupas civis. Mas não era muito eficaz. Dormimos no chão. A noite é incrível apenas com os sons de motores e faróis. Especialmente o barulho do Corvette V8 que, além disso, raramente terminava a corrida.

1969: 120 METROS ENTRE O 1º E O 2º

E chegamos em junho de 1969. Junho é o último mês de aula antes das férias de verão.  E que melhor maneira de terminar o ano letivo com os 24 horas? Claro que sempre com o famoso Ford GT40. A Ferrari de volta, mas não oficialmente. A Porsche quer sua vingança com, entre outros, Gérard Larousse como piloto. Devido às eleições presidenciais, o início é dado às 14h, em vez de às 16h. Um final incrível para a corrida entre o Ford GT40 de Jacky Ickx e Jacky Oliver e o Porsche de Hans Herrmann e Gérard Larousse. Nos boxes e arquibancadas, a tensão está no auge O Ford GT40 vence a corrida com 120 metros à frente do Porsche após 24 horas de corrida, 372 voltas e 4.800 km percorridos.

A Ferrari assumiu a liderança sobre nos Hunaudieres graças a maior potência do motor, mas o Ford GT40 ultrapassou-a no setor de curva de Mulsane graças a melhores freios. A Matra não esteve muito longe do pódio na 3ª e 4ª posição. 

Com meus colegas da escola, acompanhamos a corrida até o último minuto e perdemos o ônibus que deveria nos levar de volta ao EMPT. Tivemos que enfrentar uma hora de caminhada e o sargento que estava nos esperando na entrada do quartel para explicar nosso atraso.

1970 E 1971: AS 24 HORAS DE LE MANS NÃO FORAM MUITO INTERESSANTES.

Apenas Porsches e Porsches, mas eu me lembro do Ligier com Guy Ligier como um dos pilotos. Em 1970, apesar de seus famosos pilotos franceses como Jean-Pierre Beltoise, Henri Pescarolo, François Cevert, Gérard Depailler, Jean Pierre Jabouille, a Matra estava longe no ranking. Nada a comemorar. Foi em 1971 que o famoso filme “Le Mans” foi rodado com Steve McQueen.

1972: MON DIPLOME E MATRA VENCEDOR

Em 1972, é o ano do bacharelado para mim e para os colegas da turma final do EMPT. Passei no exame, mas, infelizmente, dependendo do bacharelado, não pude comparecer às 24 horas. Mas para coroar este ano, acontecia a vitória do Matra Simca V12 com Henri Pescarolo e Graham Hill dois pilotos de F1. De fato, duas Matra no pódio à frente de Porsche, Ferrari, Alfa-Romeo. A França celebrava esta bela vitória.

1973: ADEUS LE MANS

1973 foi o meu último ano como estudante em Le Mans, Claro que fui ao circuito para uma última vez. Mais uma vitória soberba para a Matra e para Henri Pescarolo acompanhado por Gérard Larousse sem esquecer o 3º lugar também para a Matra com os dois ‘Jean-Pierre’ Jaussaud e Jabouillle. Meu tempo no departamento de Sarthe e Le Mans está acabando. Ainda não sei que um dia eu chegaria ao Brasil, mas lembro de Carlos Pace em 2º lugar num Ferrari 312PB.

1974: MATRA NOVAMENTE. BRAVO!

Em 1974 não estava mais em Le Mans, mas é uma outra vitória para a Matra com o famoso Henri Pescarolo ao volante com Gérarard Larrousse. Terceira vitória consecutiva.  E depois seguem de novo anos Porsche antes da vitória da Renault Alpine em 1978 com o A442B e Didier Pironi (26) e Jean-Pierre Jaussaud (41) ao volante. Em 1978, já estou na Renault desde 1975 e, claro, estamos comemorando essa vitória.

FELIZ 100º ANIVERSÁRIO PARA AS 24 HORAS. 

Muitas boas lembranças das seis  24 Horas de Le Mans com as vitórias da Matra-Simca, pilotos heróis como Henri Pescarolo e suas 3 vitórias em Le Mans em 1972, 73 e 74 e  Jacky Ickx e suas 6 vitórias, das modificações do circuito para limitar a velocidade máxima nas Hunaudières, chuva que complicava a condução, pódios históricos, Carlos Pace e, claro, cheio de história com os meus amigos do EMPT.

Alain Tissier

Nota NdG: Alain Tessier é Ex-Vice Presidente da Renault no Brasil