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O Mundial de Rally está em crise... e indo na direção errada PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 10 June 2023 11:40

As coisas no automobilismo (e na vida) estão sempre mudando. Outro dia vi umas fotos das matérias do Setor G, no nosso site dos Nobres do Grid com os títulos do Emerson Fittipaldi e como as coisas eram naquele tempo. E era a Fórmula 1. Imaginem como deviam ser as outras.

 

Hoje em dia os boxes são mais limpos que sala de cirurgia. Tem umas dezenas de engenheiros trabalhando na fábrica e monitorando o carro, com seus milhares de sensores, um custo absurdo para poder se fazer uma temporada e um “teto de gastos” igual ao do governo brasileiro, com um monte de despesas “fora do teto”.

 

Mas o mundo gira e quem não girar com ele cai da roda e as coisas tem que mudar. O Bom Velhinho era freio de mão puxado com relação ao ritmo louco que o terceiro milênio tem exigido de todo mundo e quando os americanos do Liberty Media assumiram a Fórmula 1, a coisa ganhou uma cara mais moderna, mesmo com algumas pisadas na bola como a do final do campeonato de 2021, eles aumentaram a audiência na TV, colocaram a categoria no streaming, tem processo para a entrada de novas equipes para aumentar o grid em breve, tudo está indo num bom caminho.

 

 

O WEC, o campeonato Mundial de Endurance também está seguindo um bom caminho, com a introdução do Hypercars passamos a ter uma disputa de protótipos com mais de 2 carros (da mesma equipe) ou com 4 carros de duas equipes para termos diversas equipes envolvidas (e novas chegando), com a transmissão – gratuita – das corridas pela internet e com a chegada de pilotos que tinham nível (mas não tinham dinheiro, pai ou padrinho rico) para estar na Fórmula 1.

 

Das categorias da FIA, a única que parece estar enfrentando problemas pra tirar o trem da estação é o WRC. O Campeonato Mundial de Rally anda enfrentando problemas e – pior – não estão conseguindo identificar os (verdadeiros) erros que estão cometendo e buscando desculpas pra explicar o que está errado. No momento, eles apontam que a TV e os computadores levaram muitos espectadores a acompanhar a corrida pela web, evitando viagens longas e caras, mas não estão encarando de frente o problema de ter apenas 3 fabricantes envolvidos no Rally 1, os custos excessivos para a temporada, as regras e o sistema de pontuação que é questionado pelas equipes e pilotos.

 

A TV e a internet não são inimigos do esporte a motor.

O Bom Velhinho criou todo tipo de dificuldade possível para que a Fórmula 1 não fosse transmitida pela internet. Ele queria as TVs do mundo pagando cada vez mais pelos direitos de transmissão e achava que a rede iria tirar o público dos autódromos. A Liberty Media foi no caminho contrário e a Fórmula 1 ganhou popularidade, vem batendo recorde de público nos autódromos e atraindo um público jovem e não os velhos “donos de Rolex”, que o Bom Velhinho dizia “financiar a categoria”.

 

 

No caso das provas de Rally, há alguns anos o WRC chegou à televisão e agora alguns canais pagos conseguem satisfazer o público e acompanhar bem as corridas do mundo, em alguns países é possível ver todas as etapas especiais de um Rally. Na mentalidade dos organizadores dos Rallies, essa comodidade tirou uma pequena fatia dos espectadores.

 

No caso do rally, ninguém paga ingresso para ficar no meio do mato vendo os carros passando (claro que algumas etapas são em trechos curtos, com acessos controlados e que tem ingressos cobrados. O acesso aos parques de serviços – como ir ao paddock – também tem ingressos pagos, mas estão deixando o público cada vez mais longe). Onde estaria o problema? Vai ter sempre gente nos principais pontos, aqueles saltos de dezenas de metros (haja suspensão). O problema é que assim como é na Fórmula 1, a organização tem que negociar alguns formatos para encaixar na grade de programação e o retorno financeiro é bom. Não dá pra ser 100% purista.

 

Está faltando competição e o custo está alto!

Ao contrário do que se via 20 anos atrás, quando haviam 6 montadoras termos 16 ou 18 pilotos e navegadores brigando pela vitória. Há alguns anos temos apenas três montadoras (Toyota, Hyundai e Ford, passando pela M-Sport). São poucas montadoras que competem dom 2 ou 3 carros. Temos tido entre 8 a 10 carros iniciando cada competição com algum piloto extra em alguma equipe. Como a competição tem alguns acidentes e abandonos. Na última etapa do WRC, disputado na Sardegna, um carro do WRC2 chegou em 5º geral.

 

 

Todos sabem que o automobilismo é um esporte caro, mas assim como aconteceu com a Fórmula 1, os custos subiram demais e a última mudança de regulamento, com a introdução dos motores híbridos aumentou ainda mais o custo que já era alto. Em um passado não tão distante era normal vermos pilotos privados com carros não oficiais das equipes participando de etapas do WRC em sua categoria principal. Isso é raro nos dias de hoje.

 

A pontuação artificial e a competitividade artificial.

O WRC usa o mesmo sistema de pontuação da Fórmula 1 para os 10 primeiros colocados, mas há uma “pontuação extra”. No domingo, o “power stage” dá 5 pontos extras para seu vencedor, 4 para o segundo colocado e assim se segue até o ponto para o quinto colocado. Foi uma forma que o WRC criou para diminuir a perda de quem teve problemas durante os três (ou quatro) dias de competição.

 

 

Para quem não está familiarizado com o WRC, um piloto que abandone a competição na sexta-feira (por exemplo), pode voltar no sábado se recuperar o carro, mas vai ter uma perda de tempo que inviabilizará uma briga pelo pódio, mas no domingo, caso ele vença o “power stage”, ele ganha 5 pontos. Isso evita que um piloto (ou uma disputa polarizada) dispare na pontuação do campeonato e decida o campeonato com grande antecedência.

 

O WRC querer copiar a Fórmula 1 pode ser um erro. São duas competições completamente diferentes e no último Rally da Sadegna nossos colegas italianos ficaram revoltados: proibiram a tradicional comemoração do mergulho no mar mediterrâneo. Isso é algo muito diferente do que se via nas grades da mureta dos boxes onde os mecânicos se amontoavam para celebrar a vitória do piloto de sua equipe ou resultado expressivo.

 

 

As questões são complicadas e uma ação isolada não vai recolocar o trem nos trilhos. É preciso diminuir os custos para atrair mais montadoras e o caminho poderia ser ajustando o regulamento do WRC ao do WRC2 ao invés de colocar a culpa na TV ou no youtube.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

 

Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid.  
Last Updated ( Saturday, 01 July 2023 00:48 )