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O piloto mais aguardado pela Fórmula 1 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 26 October 2023 20:01

No final de 1983, o automobilismo mundial estava numa das raras fases onde não existia tanta expectativa em relação a certo piloto. Já tinha acontecido no passado em relação a gente como Jackie Stewart, por exemplo, mas nesse ano, quase duas décadas depois da estreia do piloto escocês, outro piloto criava expectativas acerca da sua capacidade na Formula 1. E não era britânico.

 

Aqui se fala de todo um ano onde andou no cockpit de quatro equipas, em testes com outros dos pilotos dos quais existiam grandes expectativas, para no final, entrar numa equipa do meio do pelotão, mas no qual poderia mostrar sem limites as suas capacidades num carro com um motor 1.5 litros Turbo.

 

O FUTURO ANTES

 

Depois de dois vice-campeonatos de karting, Ayrton Senna estreara-se nos monolugares em 1981 num Formula Ford 1600 da van Diemen Racing, onde depois de um tempo de adaptação, acabou por triunfar no campeonato contra gente como o argentino Enrique Mansilla. No ano seguinte, passou para a Formula Ford 2000, motores mais potentes, e correndo em alguns circuitos do calendário da Formula 1. No final do ano, teve a chance de experimentar um Formula 3, na ronda extra-campeonato de Thruxton, onde se deu bem e acabou por ganhar uma das provas, mostrando a sua rápida adaptação. Curiosamente, um dos pilotos contra ele competiu foi um finlandês chamado Henri Toivonen, que nessa tmeporada era piloto da Talbot no Mundial de Ralis.

 

 

As expectativas eram altas, e no campeonato britânico de Formula 3, existiam duas boas equipas: a West Surrey Racing e a Eddie Jordan Racing. Existiam outras como a Murray Taylor Racing e a David Price Racing, que acolheu dois americanos, Davy Jones e Eric Lang, mas era na West Surrey que os olhos estavam postos, porque tinham sido eles que ficaram com Senna. Já Eddie Jordan iria acolher o britânico Martin Brundle, que estava na segunda temporada nessa categoria, depois de ter ganho cinco corridas em 1982 e acabado no quarto lugar do campeonato desse ano. E ambos iriam correr num chassis Ralt, com motor Toyota.

 

 

A partir da ronda inicial, em Silverstone, a 6 de março, foi um duelo entre Senna e Brundle, com algumas interferências. O brasileiro ganhou as nove primeiras corridas do campeonato, e o seu dominio em corrida era tal que as equipas de Formula 1 começaram a olhar para ele, pensando no potencial que teria na categoria máxima do automobilismo. E à imprensa também não escapava a sua rapidez, começando a questionar algumas equipas sobre a sua capacidade de dar uma chance a este jovem. Em breve, ele teria as primeiras respostas.

 

WILLIAMS, DONINGTON PARK

 

Em junho, Frank Williams começou a pensar seriamente na ideia de dar uma oportunidade a Senna. Marcou um teste em Donington Park, num Williams FW07C - Cosworth, a mesma máquina que Keke Rosberg guiava nas pistas europeias, com cada vez mais “decalage” em relação aos Turbos. Como o finlandês era o campeão em título, tinha o numero 1 no chassis. Quem melhor incentivo não poderia ter?

 

 

O carro ficou pronto para um dia de testes no circuito britânico, e final, os tempos foram dignos. Frank Williams ficou impressionado não só com a sua consistência, como também o seu “input” em relação às coisas que pretendia modificar para poder tirar o melhor da máquina que esta va a conduzir. No final, Senna adorou o teste e começou a pensar que a ideia da Formula 1 estaria ao seu alcance.

 

Mas existiam outras coisas mais imediatas. Como triunfar na Formula 3, num campeonato onde a sua rivalidade com Brundle estava ao rubro. Apesar de apenas ter ganho a sua primeira corrida na décima ronda, em Silverstone, a 12 de junho, o facto de ser o segundo melhor piloto foi o suficiente para quando Senna desistiu nas três rondas seguintes, duas delas ganhas pelo britânico, a sua liderança ter ficado em sério perigo. No verão, se um ganhava, outro respondia, e o duelo chegou a um ponto alto em Oulton Park, a 6 de agosto.

 

 

Nessa corrida, ambos os pilotos lutaram pela liderança, com Senna na frente, até Brundle ficar com uma chance para o passar. Senna não recuou e ambos acabaram por bater, desistindo ambos, com o carro do brasileiro em cima do britânico, causando um torcicolo no pescoço de Brundle. De uma certa forma, apesar do incidente de corrida, muitos ficaram com ideia de que Senna poderia ser capaz de tudo para defender a sua posição...

 

Contudo, no final da temporada, dos 20 resultados do campeonato, apenas 17 eram contabilizados e Brundle era penalizado por ter pontuado mais que a sua conta: 18, em 20. Senna, por seu turno, poderia ter pontuado em 14 ocasiões, mas tinha conseguido 12 vitórias, contra apenas seis de Brundle. No final, Senna conseguiu 132 pontos, contra os 123 do britânico. Contabilizados oficialmente.

 

 

E enquanto Senna começava a preparar-se para ir a Macau e sentar-se num dos carros da Theodore Racing, a Formula 1 queria saber do que ele era capaz. Algumas equipas se mexiam para dar um teste a ele, e o primeiro a fazê-lo era a McLaren. Mas ao contrário da ocasião da Williams, não iria sozinho.

 

O TRIPLO TESTE DA McLAREN

 

Um MP4/1 estava pronto no final de outubro de 1983 para dar uma chance de teste não a um, mas a... três pilotos. Ayrton Senna fora convidado e aceitou, mas teria a companhia do seu rival, Martin Brundle, e de um alemão que correra na Formula 2 e parecia ter o mesmo “hype” que Senna, só que na Endurance: Stefan Bellof.

 

Então com 26 anos, Bellof estava ali como convidado da Porsche, que iria dar os seus motores Turbo à McLaren, e queria saber qual seria a sua capacidade e adaptabilidade a um carro dessa potência. Irónicamente, o MP4/1 tinha o motor Cosworth, ou seja, apesar do chassis ser de 1983, era menos potente que tinham agora, nas mãos de Niki Lauda e do seu novo recruta, o francês Alain Prost. Mas a McLaren estava atenta ao alemão, pensando num futuro onde poderia ser seu piloto, provavelmente para substituir Lauda.

 

 

Os três tiraram a vez, com Senna a ficar com o carro pela manhã, seguido por Brundle, e Bellof ficaria com a parte final. O brasileiro iria fazer o melhor tempo, com 1.13,9, e apesar de se queixar de estar apertado no cockpit, sentiu-se bem em guiar o carro.

 

“O McLaren Ford é um carro fácil de dirigir. A velocidade em Silverstone é bastante alta, mas ainda tenho um bom pressentimento sobre este carro. Os resultados foram excelentes, muito melhores do que eu esperava.”, começou por afirmar.

 

“Agora vou perceber como você pode vencer uma corrida de Fórmula 1. Na Fórmula 1 você sempre depende do material que consegue, o piloto pode fazer parte disso. Estou muito satisfeito com este teste e foi muito bom fazê-lo.”

 

Ron Dennis comentou sobre a performance do brasileiro: “Até agora tudo está correr bem. Ayrton está constantemente mais rápido com esses pneus do que fomos no passado. Espero que possamos deixá-lo rodar noutra sessão no final do dia. Talvez será ainda melhor então.”

 

 

Contudo, não iria ter essa chance. Quando foi a ocasião de Bellof dar umas voltas, estas acabaram em despiste e a oportunidade evaporou-se. Mas outros estavam atentos ao que Senna testava, e um deles era Bernie Ecclestone, que não perdeu a chance de o convidar para experimentar o carro campeão do mundo desse ano: o Brabham BT52. Ele iria fazer isso em Paul Ricard, no sul de França, mas ao contrário das outras vezes... as coisas não iriam correr bem.

 

UM GRUPO DE GENTE EM PAU RICARD

 

A 14 de novembro, um mês depois de celebrarem o título mundial, a equipa esta va a testar um modelo de transição para o BT53, que iria ser lançado em 1984. Para além disso, existia uma vaga na equipa, pois Riccardo Patrese ia a caminho da Alfa Romeo, e Nelson Piquet precisava de um companheiro de equipa. Um outro piloto brasileiro, ainda por cima o campeão da Formula 3 britânica, teria sido outra jogada fantástica de marketing por parte de Ecclestone e de Gordon Murray, mas Piquet já sabia quem ele era... e não gostava dele. E não achou muita graça os planos do seu patrão para ter uma dupla cem por cento brasileira.

 

Mas não era só Piquet e Senna que lá estavam na pista francesa. Outros pilotos iriam testar o carro, nomeadamente o colombiano Roberto Guerrero, que tinha estado na Theodore na temporada que tinha agora acabado, e os italianos Mauro Baldi, que tinha estado na Alfa Romeo, e Pierluigi Martini, piloto da Formula 3 europeia e com potencial para a Formula 1.

 

 

Piquet foi o primeiro a ir para a pista para marcar um tempo de referência para os outros. Mas quando saiu do carro, disse aos seus mecânicos para desajustar o carro, para que nenhum deles pudesse fazer um tempo digno desse nome. Quando Senna foi para dentro co cockpit, ficou muito distante do seu compatriota, sem capacidade de mexer nos ajustes para melhorar as suas performances. E pior: ficara atrás quer de Baldi, quer de Guerrero.

 

Apesar de tudo, Ecclestone queria negociar com o piloto, e Senna disse que sim. Mas Piquet fez “lobbying” junto da Parmalat, a patrocinadora italiana, que afirmou pretender um piloto desse país na equipa. Convencidos, mas não tanto, a solução ficou-se em Teo Fabi, que naquele ano tinha sido vice-campeão na CART americana e iria regressar à Formula 1... enquanto corria na competição americana! Quando o calendário se incompatibilizava, as tarefas de pilotar o carro caberiam ao seu irmão Corrado, que em 1983, depois de ter sido o campeão da Formula 2, tinha pilotado um Osella de Formula 1.

 

Mas isto tudo não fechou as portas da Formula 1 a Senna, porque outras equipas, e outros testes estavam a caminho.

 

SENTIR-SE EM CASA COM A TOLEMAN

 

Senna regressaria a Silverstone para mais um teste, desta ocasião com uma das equipas em destaque na temporada que tinha acabado: a Toleman. Nesse ano, com Derek Warwick e Bruno Giacomelli, tinham conseguido 10 pontos, e dois quartos lugares com o britânico ao volante, nos Países Baixos e na África do Sul.

 

O teste aconteceu alguns dias depois do seu triunfo em Macau, e se de manhã, o tempo não ajudou muito, porque a pista estava molhada, na parte da tarde, quando esta secou, começou a marcar os seus tempos, e acabou com 1.11,500, um tempo um segundo mais rápido que Derek Warwick tinha marcado no fim de semana do GP britânico, em julho. Aliás, com esse tempo, teria conseguido o oitavo lugar da grelha de partida da corrida desse ano. Mesmo de manhã, com o tempo húmido, tinha conseguido 1.12,040, um tempo melhor que os alcançados por Warwick e Bruno Giacomelli, o companheiro de equipa do britânico naquele ano.

 

 

Os responsáveis da marca estavam impressionados, mas Senna disse de sua justiça:

“Para ser honesto, este não é um carro para vencer”, disse Senna no final do dia de testes na pista britânica. “Este carro não tem as capacidades de Ferrari, Renault ou Brabham. Mas este carro é definitivamente um potencial candidato aos pódios, talvez na próxima temporada.”

 

Poucos dias depois, a equipa chefiada por Alex Hawkridge decidiu que ele seria seu piloto para a temporada de 1984 e seguintes. Aliás, a dupla de pilotos seria totalmente nova, pois o seu companheiro de equipa iria ser o venezuelano Johnny Cecotto, que em 1983 tinha corrido a temporada na Theodore, ao lado de Roberto Guerrero.

 

E claro, o resto é história.

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira

 

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Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid.

  
Last Updated ( Thursday, 26 October 2023 20:43 )