Quem assiste as corridas de Fórmula 1 na TV, especialmente as provas realizadas na Europa, já se acostumou a ver – após o final da corrida – um mar de gente invadir as pistas e se concentrar embaixo do pódio, como na Itália, especialmente. Aqui no Brasil, há alguns anos a organização criou um portão na reta dos boxes e aquele pessoal da arquibancada coberta, de concreto, em frente aos boxes, passou a ter acesso à pista. Mas porque não “expandir” este direito? Na semana que antecedeu a corrida, nas cenas que mostravam as arquibancadas montadas, especialmente o espaço que ampliou a lotação do circuito, nas antigas curvas 1 e 2. Elas tinham escadas em direção à pista e evidentemente seriam o acesso para, quando a corrida terminasse. Imediatamente pensei que aquilo poderia ser um problema. Claro que torci para estar errado... mas nesses casos, torcer não é suficiente. Na corrida desse ano, disputada no domingo 05/11, no entanto, a invasão que tem se tornado uma tradição e um momento muito aguardado por parte do público está criando sérios problemas para a organização do evento. Isso porque o educadíssimo público Tapuia – como nosso colunista, Gargamel, chama os habitantes nativos – começou a tomar a pista ainda antes do fim oficial do grande prêmio, ou seja, enquanto ainda havia carros em movimento pelo traçado. O incidente se deu na área de escape da Curva 1, justamente para onde conduziam as escadas que observei. A FIA soltou um comunicado convocando representantes da organização do evento para que dessem explicações. Depois da reunião, em nova nota, a Federação comunicou que solicitou ao GP de São Paulo que elaborasse um plano de ação a ser enviado até o dia 30 de janeiro de 2024 para evitar que o problema se repita em edições futuras. A pouca tolerância da FiA (alguma surpresa?) com a organização brasileira não é recente. As exigências feitas todos os anos para a “adequação” de Interlagos aos itens do caderno de encargos. Encargos estes que eu duvido venham a ser tão rigorosos, por exemplo, na Holanda, onde Zandvoort mal conseguia comportar uma corrida de Fórmula 3 europeia ou do DTM e, com uma “maquiagem”, virou “Circuito FIA 1”. Os novos promotores estão bem enrascados. A Federação internacional de Automobilismo informou que vai levar o tema para o Conselho Esportivo na próxima reunião, que poderá avaliar – e determinar – uma série de medidas que possam ser adotadas para evitar o problema, ou até aplicar punições à organização. A decisão dos comissários cita infração ao artigo 12.2.1.h. do Código Esportivo Internacional da FIA, quando há falha na tomada de medidas razoáveis e surgimento de situações inseguras. Segundo a FIA, essa não é a primeira vez que ocorrem problemas com os invasores de pista no Brasil. As primeiras invasões (em São Paulo) ocorreram com as vitórias de Ayrton Senna, mas meu primeiro registro em imagens da internet foi o segundo lugar de Emerson Fittipaldi em Jacarepaguá, recebendo a bandeirada com metade da pista tomada de gente. A Fórmula 1 e sua organização mudou muito ao longo das décadas que se seguiram e se antes chegar aos boxes ou invadir a pista era coisa para qualquer um, hoje é um processo muito bem organizado, mas a “nossa organização” está deixando a desejar. Ambiente para poucos (afinal, o ingresso é caro), mesmo – ou principalmente – em áreas dos mais endinheirados (aquele pessoal do “você sabe com quem está falando?”) as coisas são piores: No setor Heineken Village (com ingressos de 2 mil reais), os mais exaltados – e certamente alcoolizados – chegaram a brigar com os seguranças que tentavam impedir – sem sucesso – a invasão de pista. Os empolgados torcedores invasores, claro, não se contentariam em “apenas invadir” para aparecer na TV e fazer coro com o nome do finado. O mais legal é conseguir levar umas “lembrancinhas” da pista e do evento. Placas de publicidade e itens como a placa do DRS são arrancadas e levadas pela multidão que entra na pista. além da entrada sem autorização, o publico não ficou somente na retirada de borrachinhas, parafusos e placas. Várias pessoas começaram a tentar retirar equipamentos da F1, como sensores de medição e microfones de transmissão. Em um caso específico, uma pessoa viu que estavam tentando retirar um dos sensores de cronometragem. Um equipamento desses, um leitor óptico de cronometragem do modelo Alge Photocell, de grande precisão, que tem um preço estimado hoje de cerca de 600 Euros, foi retirado por um dos “entusiastas do automobilismo”, mas acabou sendo devolvido pra CBA, que fará a devolução para a Organização ou ainda diretamente para a F1. Em outro ponto da pista, um grupo chegou a cercar e tentar subir nos guinchos que levavam os carros danificados de Kevin Magnussen, de Alex Albon e de Charles Leclerc de volta aos boxes. Com tantas cidades em países por todo o planeta interessados em ter a Fórmula 1 em suas fronteiras (São Paulo teve um retorno de maus de 1,6 bilhões de reais com a edição 2023 da corrida), os promotores e as autoridades deveriam ter mais cuidado para não perderem o evento. Apesar do contrato assinado até 2030, um novo problema pode por em risco a corrida em nosso país. Abraços, Mauricio Paiva Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid. |