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A constatação da incompetência mineira em fazer automobilismo PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 13 March 2024 21:37

Para quem não me conhece, sou mineiro e 100% mineiro. Nascido e criado na região de Contagem, a mesma região onde moro até hoje com minha esposa e filhos.

 

Sou bebedor de café bom, não abro mão de um pão de queijo caseiro, adoro um boteco e uma prosa. Moda de viola está no meu sangue, sempre tenho na ponta da língua uma meia dúzia de “causos” pra gente dar umas risadas e não admito trairagem de quem quer que seja.

 

Sendo assim, sinto-me muito confortável pra falar sobre o título da coluna deste mês, uma vez que é a mais pura verdade: até produzimos bons pilotos como Toninho e Cristiano da Matta, mas pra fazer autódromo, somos totalmente incompetentes. Independente de sermos o segundo estado mais rico do país (e olha que São Paulo tem um autódromo na capital, uma pista de track day em Mogi-Guaçu, e um circuitinho de quermesse em Piracicaba), não temos um autódromo decente.

 

 

Aqui perto, na grande BH, temos na cidade de Santa Luzia um “autódromo” – o Mega Space – que consegue ser pior que o circuitinho de quermesse de Piracicaba, em São Paulo e não oferece nenhuma condição de receber uma corrida de categorias nacionais (e mesmo as regionais não são viáveis a exceção de algumas modalidades de arrancada e drift). Inicialmente até havia uma proposta de ser um espaço para corridas, mas o projeto ficou inviável em termos de segurança.

 

 

Então vieram os milionários que decidiram fazer um autódromo no meio de uma floresta de pequizais próximo a cidade de Curvelo. Longe de tudo, sem infraestrutura hoteleira e o pior, com um projeto que saiu da cabeça de sabe-se lá quem onde não haviam áreas de escape nas curvas e também não haviam retas. A (in)segurança foi exposta quando um piloto bateu num muro de proteção que era feito de tijolos e outro capotou o carro ao bater num barranco que protegia um pé de pequi. Ainda tentou-se fazer uma adaptação, encurtando a pista de 4.400 metros para 3000 metros, mas que a Stock Car desistiu há muito tempo e este ano, anos depois, a Copa Truck vai voltar a utilizar.

 

 

A esperança passou a ser o circuito que fica próximo a Juiz de Fora, em Lima Duarte, o Potenza. Com gente de peso envolvida no projeto, inicialmente tinha tudo pra dar certo. Não deu! Fizeram uma pista sem reta (a maior com 645 metros), com “curvas incontornáveis”, tanto que já foi feita uma reforma, com áreas de escape pequenas e com uma largura de pista estreita demais. A Copa Truck foi uma vez no autódromo e nunca mais voltou. A Stock Car nem ousou passar por lá.

 

 

Nos anos 60 e 70, antes destes três autódromos existirem, a prefeitura de Belo Horizonte autorizou a realização de corridas em torno do estádio do Mineirão e estas corridas começaram a atrair grandes pilotos e equipes nacionais, com os maiores pilotos do Brasil – os Nobres do Grid, antes de receberem este nome – para estes eventos esportivos. Porem, antes da metade dos anos 70 as corridas no local deixaram de existir.

 

 

Com grandes interesses comerciais (como sempre) e com o entendimento de que Belo Horizonte poderia ser um grande local para uma corrida de rua, a VICAR firmou acordo com a prefeitura de Belo Horizonte para realizar em 2024 uma de suas etapas do campeonato da Stock Car na capital mineira. Além de haver “um histórico” das corridas na região nos anos 60/70. A proximidade com a lagoa da Pampulha, ponto turístico da cidade, fica logo ao lado e mesmo passado o atestado de incompetência em se fazer um autódromo, o estado e a cidade a configuração da pista não lembra em nada ao das corridas do passado. Outras opções foram consideradas, como o Aeroporto Carlos Prates e um traçado na cidade administrativa, mas logo foram descartadas.

 

 

Mas nem tudo são flores na volta das corridas à capital mineira. Por questões de segurança (o trauma dos pequizais é forte) o Conselho Municipal do Meio Ambiente autorizou o corte de 77 árvores. A coisa foi para na justiça e o COMAM tentou amenizar dizendo que “seriam apenas 63 árvores”, número que diverge no que está no Ministério Público. 77 ou 63, é muita árvore para um evento de um final de semana e em tempos de sustentabilidade, isso é um trem descarrilado.

 

 

Além do corte das árvores (17 árvores foram cortadas no canteiro central da Avenida Coronel Oscar Paschoal em meio a protestos e revolta de um grupo de manifestantes), o projeto para instalação do circuito automobilístico vai incluir o recapeamento das avenidas e a retirada de canteiros centrais, postes, pontos de ônibus, quebra-molas e passagens elevadas de pedestres nas avenidas Rei Pelé, Carlos Luz e Coronel Oscar Paschoal. À frente da organização local está Sérgio Sette Câmara – o pai do piloto – político local e ex-presidente do Atlético MG e este mês fizeram o lançamento da corrida, com políticos e pilotos.

 

Dificilmente a corrida deixará de acontecer, as árvores de serem cortadas e um trem de notas explicativas será distribuído. Eu vou ver isso de perto, mesmo sem credenciamento do site.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

 

 

Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid.