Portugal não tem grande tradição de pilotos na Formula 1. Em 62 anos de história daquela que se tornou com o tempo na categoria máxima do automobilismo, apenas quatro pilotos entraram nesse restrito lote: Mario de Araujo Cabral, o popular “Nicha”, que fez quatro Grandes Prémios entre 1959 e 1964; Pedro Matos Chaves, que tentou se qualificar por treze vezes em 1991 pela Coloni, sem sucesso; Pedro Lamy, que fez 32 Grandes Prémios entre 1993 e 1996, pela Lotus e Minardi, marcando um ponto, e poir fim. Tiago Monteiro, que fez 37 corridas em 2005 e 2006, pela Jordan, Midland e Spyker, conseguindo o terceiro lugar no infame GP dos Estados Unidos de 2005, onde devido a uma polémica com durabilidade dos pneus da Michelin, apenas seis carros alinharam nessa corrida. Mas em breve, poderá haver um piloto que acompanhará estes quatro pilotos neste estrito lote. E muito provavelmente, poderá ser a nossa melhor hipótese de chegar ao ainda mais estrito panteão dos vencedores. Apoiado pela Red Bull, tem vindo a vencer em todas as categorias onde passa, a última das quais na World Series by Renault. O seu nome é António Felix da Costa. O início do “Formiga”. Nascido a 31 de agosto de 1991 em Cascais, nos arredores de Lisboa, a sua família tem o automobilismo no sangue. O seu pai foi representante de uma marca de lubrificantes em Portugal, os seus três tios maternos, os Mello Bryner, tiveram uma carreira eclética no automobilismo, que teve entre outros, passagens pelas 24 Horas de Le Mans e pelo rally Dakar, e o seu irmão mais velho, Duarte Felix da Costa, corre em Turismos e na Endurance. Começou a correr no karting aos nove anos, em 2000, e aos poucos, conseguiu exprimir o seu talento, vencendo campeonatos nacionais na categoria de Cadete. Em 2004, foi campeão nacional na categoria Junior, na mesma altura que ganhou o apelido “Formiga”. Conta-se que, quando apareceu numa prova internacional, as pessoas não acreditavam que ele, com a altura que tinha, então com 13 anos – era muito baixinho e ninguém lhe dava mais do que oito anos – fosse piloto. Um dos pais de um piloto que estava lá a correr decidiu chamá-lo com esse nome e este pegou.
Em 2006, consegue os seus melhoires resultados no karting, ao ser segundo classificado no World Series Karting Championship e foi o terceiro classificado no Masters italiano, considerado o mais competitivo do mundo. Isso foi o suficiente para que a Tony Kart, a melhor fabricante do mundo, o contratasse para a sua equipa oficial em 2007, onde conseguiu alguns resultados de relevo. Uma entrada de leão nos monolugares. Em 2008, aos 16 anos, faz a transição para os monolugares, indo para a Formula Renault através da alemã Motorpark Academy. No ultra-competitivo campeonato do norte da Europa (NEC), bem como o campeonato europeu, Felix da Costa cedo deu nas vistas, sendo o maior rival do finlandês Valtteri Bottas no campeonato europeu. Nesse primeiro ano, esteve mais concentrado na categoria NEC, onde acabou por ser vice-campeão, conseguindo uma vitória. No ano a seguir, continua em ambos os campeonatos, mas ele já e considerado como um candidato ao título. Vence na categoria NEC e luta pelo título no campeonato europeu, mas acaba por ser prejudicado com uma desclassificação na corrida de Nurburgring e é batido pelo espanhol Albert Costa e perde do desempate pelo segundo lugar com o francês Jean-Eric Vergne, pois o francês tinha mais uma vitória do que o português (quatro contra três).
Em 2010 passa para a Formula 3 Euroseries, onde se torna no “Rookie do Ano”, vencendo três corridas e terminando no sétimo lugar da geral. Isso faz com que receba um convite da Carlin para correr algumas provas na GP3, onde consegue como melhor resultado um sexto lugar na Hungria. Mas vai ser no final desse ano que consegue uma primeira recompensa: graças aos contactos com Tiago Monteiro, que se tinha tornado seu conselheiro, arranja um lugar na Force India (sucessora da Jordan e da Spyker) no Rookie Test de Abu Dhabi. Testando durante dois dias, os seus resultados são impressionantes. Adapta-se facilmente ao carro e tira o terceiro melhor tempo no conjunto dos testes, apenas batido pelo Red Bull de Daniel Ricciardo e sendo um segundo e meio mais veloz do que Paul di Resta, então o terceiro piloto da marca e a preparar-se para ser o titular. No ano seguinte, decide ficar a tempo inteiro na GP3, ao serviço da Status Team, mas a temporada é decepcionante, conseguindo apenas uma vitória em Monza. Ao mesmo tempo, participa em duas rondas triplas na Formula 3 britânica, pela Hitech Racing conseguindo três pódios e uma volta mais rápida. No final desse ano, vai participar no GP de Macau de formula 3, onde apesar da promessa nos treinos, conseguindo o segundo lugar na grelha, não chega ao fim. Chamando a atenção da Red Bull. Em 2012, Felix da Costa continua na GP3, assinando pela Carlin. O inicio é auspicioso, conseguindo a pole-position para a corrida de Barcelona, mas queima a largada e é penalizado. Sobe pela primeira vez ao pódio no Mónaco, ao ser segundo classificado na segunda corrida, mas por esta altura já era observado pela Red Bull, que não estava contente com um dos seus recrutas, o britânico Lewis Williamson. No inicio de junho, Williamson é dispensado e Felix da Costa entra no seu lugar. O contrato deixa-o correr na GP3, mas também teria de fazer corridas na World Series by Renault 3.5 (WSR), pela Arden Caterham. Conseguindo compatibilizar ambas as agendas, os resultados de Felix da Costa melhoram a cada corrida: na GP3, vence uma corrida em Silverstone e duas no Hungaroring, fazendo cinco voltas mais rápidas, quatro delas consecutivas, na Hungria e na Belgica, onde termina ambas as corridas na segunda posição. Está na luta pelo título em Itália, mas uma avaria na caixa de velocidades, na primeira corrida de Monza, o coloca fora da luta pelo título, contentando-se com um quinto lugar na segunda corrida e o terceiro lugar na classificação final. Depois, concentra-se na WSR, onde já tinha marcado alguns pontos e um pódio, em Silverstone, mas a partir da ronda húngara é que mostra serviço: quatro vitórias nas últimas cinco rondas da classificação, que o permitem “disparar” do meio da tabela para o quarto lugar final, depois de ter vencido as duas corridas do fim de semana da Catalunha, a meio de outubro. Pelo meio, faz ainda duas voltas mais rápidas, e coloca-se definitivamente na órbita dos pilotos que poderão estar em breve na Formula 1. O futuro próximo. No inicio de novembro, Felix da Costa vai estar em Abu Dhabi para fazer dois dias de testes a bordo de um Red Bull. Não será a primeira vez que estará dentro, pois já tinha dado algumas voltas em Hungaroring e fez uma demonstração na Coreia do Sul. Mas desta vez será mais a sério, onde andará a experimentar pneus e a afinar settings, entrando em feedback com os engenheiros. Será um mundo completamente diferente, do qual terá de se adaptar, se quiser aproximar-se do seu sonho da Formula 1. Mas isso não será o fecho da temporada. Ainda irá no final de novembro a Macau, onde tentará a sua sorte no GP local, de Formula 3, tentando ver se o seu nome fica ao lado de outros como Ayrton Senna, Michael Schumacher, David Coulthard ou Lucas di Grassi. A partir de 2013, tudo é possível. Poderá continuar na WSR, pela Arden e tentar alcançar o titulo, e também poderá tentar a sua sorte em alguns fins de semana de Formula 1, como terceiro piloto da Toro Rosso, com o objetivo de entrar na como titular já em 2014. Veremos se é esse o plano, mas pode ser uma questão de tempo até que se volte a ver um português na Formula 1. Um abraço do outro lado do Atlântico, Paulo A. Teixeira |