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Fazendo a coisa errada PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 12 March 2013 20:58

 

Recentemente, no dia 10 de março) uma Ferrari, conduzida por seu dono, numa festa promovida no Rio de Janeiro, não conseguindo frear, atropelou três pessoas no meio do Público.

 

Pularam os “experts” em tudo, para falar do assunto. Desde Pilotos, até Psicólogos, que discutiram desde a habilidade do condutor ( ou a falta dela) até a possibilidade dos distúrbios de comportamento, daquele que pode e tem acesso à coisas impossíveis à grande maioria dos mortais. 

 

Falo de acelerar uma Ferrari na mesma pista em que Felipe Massa acabou de atingir quase trezentos por hora com sua F1.

 

Dizem dos acidentes Aéreos, que acontecem por uma conjunção de fatores. Os Automobilísticos também, só que é mais fácil culpar alguém, seja pela quantidade de testemunhas, pela proximidade e visibilidade de um condutor envolvido, Ou ainda pela crença de que ao se sentar atrás do volante, o indivíduo assume uma semidivindade que o torna imune e acima dos males do mortal pedestre.

 

Para saber o que realmente aconteceu neste ensaio de tragédia, vamos começar pelo local: 

 

O Local: Aterro do Flamengo, Pista expressa de ligação entre bairros e centro da Cidade do Rio de Janeiro. O que equivale a dizer que seu pavimento é o adequado para tráfego constante e até pesado, diferente de um pavimento de um Autódromo. Fácil de levar um Fórmula 1 até quase 300 Km/h. se você se chama Felipe Massa e dedicou sua vida à pilotagem, e conquistou o vice Campeonato na categoria em plena era Schumacher. Mas para o motorista, a pista esconde armadilhas de seu uso continuado, que podem estar desde a pequena poeira até um corpo estranho cravado, ou solto em sua superfície. Um simples prego por exemplo. Isto para não falar das ondulações.

 

 

O Evento: Havia por todo o trajeto da via oficialmente interditada para tal acontecimento, a logomarca do patrocinador ao lado da identificação oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, e logo atrás das marcas a fragilidade dos “guard rail” de plástico (do mesmo modelo usado em escolas de pilotagem, para não danificar o Veículo). O Público chamado e incentivado pelos alto falantes, fez a sua parte, comparecendo, aplaudindo, festejando.

 

O trajeto ou pista: sobre uma mesma via de ida e volta, proprietários e motoristas de Ferrari de todos os tipos foram convidados a trazer suas máquinas para um “desfile”, mas o clima era de incentivo à aceleração, (é possível ver que o único veículo, conduzido pelo único habilitado para tal, a Ferrari F1 e o Piloto Felipe Massa, é o que com mais cautela e menos velocidade se aproxima do final da pista). Todos, cada qual em sua Ferrari, puderam sentir um pouco da euforia que emana do público numa prova de grande desempenho, alguns se entusiasmaram mais que outros, inclusive entre os que buscavam ângulos melhores para foto e filmagem no meio do público. Sem avaliar o risco, muitos se aproximam do frágil esquema de “guard rail”, os "responsáveis" pela segurança, também assistindo à tudo e demonstrando sua total ignorância sobre a equação: automóvel de alta performance + público excitado/local inadequado +  (- segurança) = tragédia ensaiada ou CQD (Como Queríamos Demonstrar).

 

O Veículo: A Ferrari 458 Itália é um esportivo de altíssimo desempenho, de tal modo que em alguns países sua condução está permitida para portadores de habilitação à um mínimo de cinco anos e idade superior à vinte e cinco anos, sua ficha técnica fala por ela:

 

Performance:

Velocidade Máxima >325 km/h/>202 mph
0-100km/h (0-62mph) <3.4s
0-200km/h (0-124mph) 10.4s
0-400m (0-437 yards) 11.3s
0-1000m (0-1093 yards) 20.3s
100-0 km/h (62-0 mph) 32.5 m/106.6ft

 

A Pilotagem: Nas condições já apresentadas acima, pista, carro, público, incentivo, e fato a comentar, não vamos analisar a pessoa do condutor, que aparece no segundo vídeo tão ou mais assustado que os envolvidos, atingidos ou não.

 

É possível notar um esterçamento à direita no ato imediato da frenagem (ver vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=-DOpnkaRf88), que pode ter sido o início de uma manobra comum em rallyes, que é o pendulo, coloca o bico do carro no inverso da direção a seguir e pode ser concluído com derrapagem de 180º. 270º. ou Zerinho que é alem dos 360º. uma ou duas ou mais voltas completas sobre o eixo do carro, conseguido pela dosagem de aceleração e domínio da direção.

 

 

Perfeitamente cabível para o carro, para o final de pista numa área arredondada e para um Piloto Experiente. Possuir ou dirigir uma Ferrari 458 não confere imediata habilidade a quem quer que seja, é preciso treino e concentração para sucesso da manobra. E principalmente uma isenção de emoção pelo que se passa do lado de fora do carro, o incentivo do público para o condutor se superar, é algo perigoso, se assimilado. 

 

O Fato: No segundo vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=z_oBQreBTcM) entre tantos gritos, pelo socorro que demorou, contra o condutor, a favor do sossego do Parque do Aterro, há um que não pode deixar de capturar a atenção: Quebrem a Ferrari!

 

O mesmo espectador que estava naquele local porque gosta de automóvel, de corridas, de fórmula 1, e que já sonhava com o retorno da Fórmula 1 para a Cidade do Rio de janeiro antevendo no Aterro do Flamengo, uma Monte Carlo tupiniquim, na Cidade mais democrática do País, na Cidade vocacionada para o lazer e os grandes eventos. Este mesmo espectador que até o fato ocorrer aplaudia, filmava, interagia como só este povo o sabe fazer, mudou instantaneamente sua posição, sua alegria, sua interação com o evento e passou a interagir com o desastre, e os gritos se transformaram rapidamente em palavres de ordem. A cidadania a plenos pulmões.

 

A Lição: Tal acontecimento que poderia ter consequências muito mais graves, poderia deixar uma lição se houvesse quem quisesse aprender, há pelo menos duas assinaturas na base deste evento : o Patrocinador e a Prefeitura da Cidade, e há mais beneficiários da imagem que deveria correr o mundo de uma festa sob o sol carioca, que vão desde a própria marca do automóvel, até o seu mais incógnito condutor naquele "desfile", sem contar com o público que recebeu com entusiasmo o "presente" numa manhã de domingo. Não é à toa que o PaÍs dos carros superesportivos ( inteiros)  seja a Alemanha, e para cujo consumidor ( na Europa) estes carros são pensados e construídos. Lá além das  Autobahn, serem de ótimos projetos e excelente conservação, permitem a velocidade legal no mínimo duas vezes acima de 110Km/h. (nosso limite, felizmente imposto, para as condições de piso que encontramos), existe na maioria dos autódromos a pratica de condução veloz, por quem quer que seja, desde que porte habilitação e pague a taxa que inclui seguro para estragos causados ao circuíto ( inclua aí serviços de resgate e remoção do veículo), da sua pele cuide você.

 

 

E isto é válido para o público também, que gosta e paga para assistir condutores amadores em suas estrepolias pela pista.

 

Se a lição não vai ser assimilada, de nada adiantaria dizer que : Um Município não pode se envolver em eventos simplesmente pela beleza plástica de sua montagem e pelas imagens que pode gerar. Patrocinadores que assinam em baixo de Projetos desta envergadura, devem observar o dano que o amadorismo da montagem ( escolha do local incluso) recai sobre sua imagem imediatamente. Valido também para um Piloto Profissional que se permite circular numa tão precária instalação, e para toda sua Equipe tão ciosa do valor da sua marca e tradições e nome e origem e história na Fórmula Um. E para seu Patrocinador maior cujas imagens sob o sol carioca poderiam ilustrar campanhas.

 

O público que atende aos eventos em nosso país precisa aprender que está sempre sozinho, não tem ninguém por ele, nem para a menor das necessidades numa ocasião destas como uma informação correta. por exemplo. O que se quer é ver um maior número de pessoas entrando nos eventos como pano de fundo. O Público dá sua alegria, entusiasmo, conhecimento, torcida, tempo e muitas vezes a vida. Passados alguns dias tudo de ruim se esquece, neste país.

 

Então se você for convidado para ser público, coloque-se no lugar do "piloto" que vai exibir sua técnica, e o que o seu incentivo, sua alegria, seu filmar e fotografar pode estimulá-lo a vencer barreiras próprias. E situe-se em local seguro escolhido e eleito como tal por você, pois o raramente o promotor do evento pensa nisso.

 

Se você for convidado para ser "piloto", coloque- se no local do público, verifique se ele está protegido de uma eventual falha da máquina, se tiver dúvidas você tem a alternativa de não ir, ir e não acelerar tudo, e sobretudo se antes de saber conduzir o carro , se você sabe conduzir o piloto. 

 

Henrique Meister Neto

Arquiteto e consultor, esteve diretamente envolvido na história do Autódromo Internacional de Curitiba.

 

 

 

 

Last Updated ( Tuesday, 12 March 2013 21:59 )